A homofobia é crime

“Eu acho é que tem mais é que assassinar mesmo” – frase dita por uma moça que andava tranquila na rua, falando em tom doce e simpático.

Talvez essa tenha sido uma frase possível de ser enunciada em público em São Paulo e até aplaudida ao se referir a lésbicas, gays, bissexuais e transexuais. Ela resume o apoio social ao ódio, expresso no “tem mais é que X mesmo”. Quem assassina, o faz como representante de todos os seus apoiadores, como aquele que decidiu agir enquanto os outros permaneciam na vontade, e com isso se torna aquele que alivia o peso dos demais. Ele assassina pondo a cara a tapa em nome próprio e em favor daqueles que não têm a coragem ou condição de fazê-lo.

Um dos últimos casos famosos de ataques a gays, ocorreu na região nobre da capital Paulista, na zona oeste bairro da Pompeia, na padaria Dona Deôla, na zona oeste. Não tinha nenhum segurança para conter essa mulher? Estranho. Um fato isolado. Com certeza quando pessoas ricas, brancas e com status social cometem crimes como agressão em estabelecimentos elas são espancadas até a morte como no caso do  João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, homem negro que morreu após agressão de seguranças do hipermercado Carrefour, em Porto Alegre.

Manual básico sobre racismo. Basta fazer uma conta matemática de ensino fundamental ou o básico de estatística e sociologia. Resumindo: quem estuda o tema apresentado não passa vergonha achando que racismo não existe.

É esse espírito que legitimou políticas e leis discriminatórias em São Paulo, desde antes da ditadura civil militar, onde a polícia tinha ordem para prender homossexuais e travestis por violação da moral e dos bons costumes. E quando não éramos presos, éramos assassinados com requintes de crueldade por agentes policiais.

Hoje talvez não se pode dizer a mesma frase em epígrafe sem ser questionado (ainda bem), mas ainda somos assassinados diuturnamente, em especial as travestis e transexuais.

O nome do crime motivado pelas diferenças entre as pessoas é crime de ódio, e é um crime ainda reproduzido.

Um caso que marcou até hoje em São Paulo, foi o assassinato do ambulante, na estação Pedro II do Metrô de São Paulo na noite de natal de 2016, Luis Carlos Ruas foi atacado ao tentar defender uma travesti moradora de rua que ia ser assassinada no lugar dele, segundo informações da polícia. O ódio foi transferido para ele, e associado ao fato dele ser morador de rua, na medida em que essa travesti em específico escapou.

O delegado falando que eles não eram skinheads ou coisa parecida, eram apenas rapazes que “beberam demais” e fizeram essa “tragédia”. A coisa foi descrita, portanto, em termos de fatalidade, não de crime de ódio.

É uma apatia que condiz com o passado de nossa polícia, que assim como não assume a responsabilidade pelo que já fez contra a população LGBTQlA+, não assume a violência ainda direcionada contra nós e, também nos violentando, passam a mão sobre a cabeça do ódio.

Ódio não pode ser acolhido. Ódio precisa ser sempre acusado, pois, enquanto intenção, é a face mais criminosa em todos os tipos de crime. Polícia que não identifica e acusa o ódio, portanto, presta um serviço para o crime, e cúmplice se torna.

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