O ódio e a impunidade: uma reflexão sobre a violência contra a comunidade LGBTQIA+

Em São Paulo, um comentário aparentemente inofensivo expõe uma cultura de ódio que ainda persiste, alimentando crimes motivados pela discriminação contra a comunidade LGBTQIA+.

“Eu acho é que tem mais é que assassinar mesmo” – frase dita por uma moça que andava tranquila na rua, falando em tom doce e simpático.

Recentemente, uma frase dita de maneira casual e até doce por uma mulher que andava na rua chocou a todos que a ouviram: “Eu acho é que tem mais é que assassinar mesmo”. A fala, que faz referência à violência contra lésbicas, gays, bissexuais e transexuais, ilustra a naturalização do ódio em nossa sociedade. No Brasil, essa ideia de “tem mais é que X mesmo” tem um peso ainda maior quando se trata de violência contra a população LGBTQIA+, em especial contra pessoas trans, que enfrentam um dos maiores índices de assassinatos no país.

Um dos casos recentes que ilustra essa violência aconteceu na zona oeste de São Paulo, no bairro da Pompeia, em um estabelecimento de renome: a padaria Dona Deôla. O caso envolveu uma mulher que, sem qualquer reprimenda, agrediu verbalmente um casal de gays. No entanto, o ponto mais perturbador não foi a agressão em si, mas a sensação de impunidade que permeou a situação. A falta de segurança para conter o ato de ódio é uma reflexão sobre o contexto social em que vivemos: onde certos comportamentos, principalmente os relacionados ao preconceito, são muitas vezes minimizados ou ignorados.

O assassinato de João Alberto Silveira Freitas, espancado até a morte por seguranças de um supermercado em Porto Alegre, expõe a brutalidade com a qual a violência racial e homofóbica se entrelaçam. Porém, enquanto a morte de João Alberto gerou revolta e protestos, a sociedade parece manter uma postura de apatia diante de crimes de ódio que afetam a população LGBTQIA+. A indiferença diante desses atos tem raízes profundas em uma história de discriminação, que remonta a períodos ainda mais sombrios da nossa história, como o período da ditadura civil-militar, onde homossexuais e travestis eram perseguidos e criminalizados.

O crime de ódio, motivado pela discriminação de gênero, orientação sexual e identidade de gênero, continua a ser uma realidade dolorosa para muitas pessoas da comunidade LGBTQIA+. A morte de Luis Carlos Ruas, um ambulante que tentou defender uma travesti de um ataque em 2016 na estação Pedro II do Metrô de São Paulo, ilustra como o ódio pode ser transferido de uma vítima para outra. Nesse caso, o delegado tentou desqualificar a motivação do crime, tratando-o como uma “tragédia” causada por jovens que “beberam demais”, sem considerar o ódio como um fator determinante.

Essa postura de desqualificação e minimização da violência reflete uma apatia da parte das autoridades, especialmente da polícia, que ao não identificar o ódio como a principal motivação dos crimes, acaba sendo cúmplice da violência. A falta de responsabilidade por parte das forças de segurança, que ainda não assumem o papel de proteger a comunidade LGBTQIA+, contribui para a perpetuação dessa violência.

A mensagem que deve ser passada à sociedade é clara: o ódio não pode ser acolhido. Ele precisa ser constantemente denunciado, identificado e combatido. O crime de ódio não é uma fatalidade ou algo que deva ser tratado com indiferença, mas sim uma violência que deve ser enfrentada com seriedade. Para isso, é fundamental que as autoridades se posicionem de forma firme, sem permitir que a discriminação e o preconceito continuem sendo vistos como algo aceitável. A luta contra a violência LGBTQIA+ deve ser permanente, e a responsabilidade de combater o ódio não pode ser delegada à indiferença.

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