Coronavírus: Muitos brasileiros poderiam não ter morrido

Sempre reluto em fazer comparações com outros países quanto ao desempenho no combate à pandemia. Os números acabam revelando coisas, mas também escondem outras. Para mim, no entanto, é bastante eloquente que tenhamos 2,7% da população do mundo e perto de 13% de todas as mortes. Mas é obvio que o total de óbitos inclui a China, que tem cerca de 1,5 bilhão de habitantes e cerca de 5 mil mortos.

O Brasil tem mortalidade cerca de 600 vezes maior que a China, mas mais de 5 mil vezes maior que o Vietnã e cerca de 22 vezes maior que o continente africano. Portanto, a pergunta útil, depois dessas comparações é a respeito do que explica essas discrepâncias. As causas estão no modo de enfrentamento (procedimentos) ou colaboram determinantes culturais, genéticos, geográficos etc.? Perguntas para os pesquisadores nos próximos anos.

No caso específico do Vietnã, relatos de brasileiros que lá vivem informam que o governo tem um sistema absolutamente eficaz de controle da quarentena com atuação dos profissionais de saúde que atendem os isolados em casa. Infectados e quarentemados são minuciosamente entrevistados para se rastrear os contatos, incluindo locais em que se esteve ou se frequentou. O vírus não é “aguardado” nos hospitais, mas “perseguido” e combatido nas ruas. Sito os relatos para não falar da versão oficial, mas esse é o informe também dado pela OMS.

Talvez, frente ao abismo entre os melhores exemplos e os nossos 434,9 mil mortos, seja muito difícil até mesmo cogitar que poderíamos ter tido não apenas alguns pontos percentuais a menos de casos e óbitos, mas que poderíamos ter conquistado números chineses, taiwaneses, finlandeses ou mesmo sauditas, todos com mortalidade no mínimo 10 vezes menor que a nossa. Seriam 400 mil vidas poupadas.

Mas talvez isso não seja assim tão utópico, pois temos na nossa história sanitária um conjunto bem impressionante de triunfos do SUS. O primeiro deles é o próprio SUS / Sistema Único de Saúde do Brasil, criado em 1989, é um sistema universal e integral de saúde que tem um conjunto de ações e programas que bastante impressionantes. Vamos exemplificar alguns: (informações a partir do site politize.com.br)

• – A Estratégia de Saúde da Família (ESF), criada em 1994, com cobertura que abrange a maioria dos municípios brasileiros, com papel fundamental em estratégias de promoção de saúde e atendimento de populações isoladas, de difícil acesso e áreas com grave vulnerabilidade social;
• – O Programa Nacional de Imunização do Brasil, reconhecido internacionalmente e que tem em sua história a erradicação de diversas doenças e impacto na diminuição de mortes por sarampo, rubéola, tétano, difteria, coqueluche entre outras. São cerca de 300 milhões de vacinas por ano, com destaque para a vacinação contra gripes (H1N1);
• – O Programa Mais Médicos, famoso por seus resultados na interiorização da presença de médicos em áreas isoladas e periferias de grandes centros urbanos.
• – Farmácia Popular, com ampla distribuição de medicamentos de uso contínuo e de alto custo;
• – Prevenção de controle de HIV/AIDS que fez do Brasil referência mundial no controle da epidemia de AIDS desde 1996, pioneiro na distribuição dos antivirais de última geração, além de ações de prevenção com profilaxia pré e pós infecção;
• – O Brasil possui o maior programa público de transplante de órgãos no mundo em que perto de 90% de todos os transplantes no país são feitos pelo SUS, beneficiando perto de 100 mil pessoas por ano;
• – Registro Nacional de Doadores de medula Óssea (REDOME), o terceiro maior do mundo, com cerca de 80% de identificação de doador compatível;
• – SAMU (192) que atende hoje 75% da população brasileira e conta com quase 3 mil unidades móveis de atendimento.

Essa lista serve para pensarmos que talvez pudéssemos sim estar entre os melhores exemplos do planeta também na pandemia de Covid-19. Mas até agora o negacionismo imperou.

 NO BRASIL
Registro de mortes hoje: 2.067
Total de mortes: 434.852
Média móvel de mortes nos últimos 7 dias: 1.910
Casos confirmados em 24 horas: 69.300
Casos acumulados na pandemia: 15.590.613
Média móvel de novos casos nos últimos 7 dias: 62.855
Casos ativos: 1,397 milhão
Em 119 dias de campanha, pessoas vacinadas: 38,571 milhões (18,21% da pop.)
Em segunda dose, 100 dias: 19,098 milhões de imunizados (9,02% da pop.)

 NO MUNDO
Casos: 163,7 milhões
Óbitos: 3.390.400
1º – E U A: 599,9 mil
2º – Brasil: 434,9 mil
3º – Índia: 270 mil
4º – México: 220,4 mil
5º – Reino Unido: 127,9 mil
6º – Itália: 124,1 mil
7º – Rússia: 115,9 mil
Dados JHU (Johns Hopkins University).

É o que registra o diário de bordo.

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