Com a recente orientação do CFM, a nebulização de cloroquina e hidroxicloroquina surge como um tema de controvérsia, evidenciando a falta de pesquisa ética e a fragilidade do posicionamento do Conselho Federal de Medicina.
Recentemente, o Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgou uma resolução esclarecendo que o uso de cloroquina e hidroxicloroquina em nebulização é um procedimento “experimental” que depende de aprovação ética prévia. O CFM orienta que médicos não dissolvam comprimidos dos medicamentos para administrá-los via nebulização, destacando que tais práticas são inadequadas e não estão em conformidade com as diretrizes de uso estabelecidas para esses fármacos. Essa orientação foi formalizada pela Resolução nº 2.292/2021, publicada no Diário Oficial da União em 11 de maio.
De acordo com a resolução, a nebulização desses medicamentos precisa ser realizada apenas dentro de protocolos de pesquisa registrados pelos Comitês de Ética em Pesquisa (CEP) e a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). No entanto, a ação do CFM tem gerado questionamentos sobre a real eficácia do posicionamento, especialmente considerando que ainda não há estudos conclusivos ou protocolos validados que justifiquem tal procedimento. O CFM argumenta que a nebulização seria uma alternativa potencial para aumentar a eficácia dos tratamentos contra a Covid-19 e reduzir os riscos de eventos adversos, mas faltam dados concretos que embasem essa teoria.
Ao abordar a questão, a resolução do CFM destaca que os comprimidos de cloroquina e hidroxicloroquina contêm excipientes com diversas substâncias além do princípio ativo, o que inviabiliza a prática de triturar os comprimidos para dissolvê-los e aplicá-los via nebulização. Essa explicação deixou muitos profissionais de saúde perplexos, dado que a conduta de manipular medicamentos dessa forma é, de fato, considerada perigosa. Em vez de uma postura firme contra o uso de tais substâncias no tratamento da Covid-19, o CFM apenas restringe a forma de administração, sem abordar a principal questão: a eficácia da cloroquina e da hidroxicloroquina como tratamento para a doença.
O CFM, ao tratar da nebulização como um “procedimento experimental”, acaba, de certa forma, dando uma sobrevida à cloroquina. Isso ocorre porque a resolução não desqualifica a medicação em si, mas apenas limita a maneira como ela pode ser administrada. Ao invés de afirmar que a cloroquina é uma droga perigosa e ineficaz, o CFM se limita a proibir a sua utilização através de nebulização, sem discutir suas implicações no tratamento da Covid-19.
Além disso, a necessidade de o CFM detalhar o que é um excipiente e as formas adequadas de administrar os medicamentos é um indicativo preocupante sobre a formação e atualização contínua dos profissionais médicos. A explicação do Conselho sobre procedimentos básicos de farmacologia parece uma medida paliativa para mascarar erros passados e orientar médicos que já estavam adotando práticas controversas.
Esse episódio evidencia não apenas a fragilidade das resoluções do CFM, mas também a falta de uma ação mais contundente contra a prática do uso inadequado de cloroquina. Com o número de mortes por Covid-19 ainda muito alto e a vacinação em ritmo lento, fica claro que o Brasil continua a enfrentar desafios críticos na luta contra a pandemia. Enquanto isso, o governo federal segue com sua postura negacionista, o que agrava ainda mais o cenário sanitário.
A média móvel de mortes no Brasil, apesar de uma leve queda, ainda está em números alarmantes. A média móvel de novos casos segue aumentando, com mais de 60 mil novos casos reportados nos últimos sete dias. Além disso, o Brasil continua a sofrer com a escassez de insumos para vacinas, o que pode retardar ainda mais a imunização da população. A paralisia na produção da vacina CoronaVac, em particular, se deve à falta de IFA (Insumo Farmacêutico Ativo), essencial para a fabricação da vacina.
A situação global da pandemia também segue crítica, com os Estados Unidos e o Brasil liderando o número de mortes. Até o momento, o Brasil contabiliza 430.596 mortes e mais de 15 milhões de casos confirmados, com os casos ativos perto de 1,4 milhão. A vacinação, que alcançou 17,83% da população com a primeira dose, ainda está aquém do ideal, e a segunda dose foi administrada em 8,89% da população.
NO BRASIL
- Registro de mortes hoje: 2.340
- Total de mortes: 430.596
- Média móvel de mortes nos últimos 7 dias: 1.917
- Casos confirmados em 24 horas: 75.141
- Casos acumulados na pandemia: 15.436.827
- Média móvel de novos casos nos últimos 7 dias: 61.115
- Casos ativos: 1,384 milhão
- Em 117 dias de campanha, pessoas vacinadas: 37,750 milhões (17,83% da população)
- Em segunda dose, 98 dias: 18,820 milhões de imunizados (8,89% da população)
NO MUNDO
- Casos: 162,4 milhões
- Óbitos: 3.365.300
- 1º – EUA: 598,5 mil
- 2º – Brasil: 430,6 mil
- 3º – Índia: 262,3 mil
- 4º – México: 219,6 mil
- 5º – Reino Unido: 127,9 mil
- 6º – Itália: 123,7 mil
- 7º – Rússia: 114,7 mil
Fonte: Dados JHU (Johns Hopkins University)
A situação continua crítica, e as falhas nas políticas de saúde pública e no manejo da pandemia continuam a agravar a crise no país. O uso de medicamentos ineficazes e a lentidão na vacinação são apenas alguns dos obstáculos a serem superados. O Brasil precisa de medidas mais eficazes e decisões firmes para combater a pandemia de forma efetiva.