Os dois desmontes do SUS

Revendo meu diário de bordo de um ano atrás, 9 de maio. No dia, constatava pelo menos 1 morte em 894 municípios, 16% dos 5.570 municípios brasileiros. Hoje são 5.490 municípios, 98,6%. Na época se discutia a interiorização cada vez mais evidente da pandemia que saía dos grandes centros urbanos para os menores e daí para os rincões.

Discutia-se também que os pequenos municípios teriam melhores condições de fazerem funcionar as barreiras sanitárias e o rastreamento de casos e quarentena da rede de contato. Para isso sendo necessário a mobilização da saúde básica e das equipes de saúde da família, com treinamento, com EPI e, obviamente, com kits de teste.

Coisa que nunca aconteceu ou aconteceu raramente por conta de iniciativas locais (testes sempre insuficientes) não apoiadas, e o resultado foi a rápida expansão da pandemia pelo país, gerando o efeito bumerangue (transmissão do interior em direção aos grandes centros urbanos) e o efeito sanfona (recuos e avanços dos casos e óbitos pela chegada da pandemia a “novos territórios”). Nunca o Ministério da Saúde se impôs a tarefa de incentivar e coordenar a tarefa de mobilizar a saúde básica, que é a “vocação” do SUS, estruturalmente construído para ações integradas de prevenção e promoção de saúde. Além do desmonte pelo desfinanciamento sistemático, fizeram e fazem o desmonte conceitual e programático do SUS, adotando o modelo cada vez mais hospitalocêntrico.

Enquanto isso a bagunça corre solta na vacinação, em estados de todas as regiões do país faltam vacinas para a segunda dose. Várias capitais e muitas cidades paralisaram a vacinação. Evidente que há um desafio logístico e uma necessidade de garantia dos fluxos que nós não temos, pois o IFA vem da China, não somos fabricantes. Por isso a orientação até 20 de março foi a de poupar vacina para a segunda dose, principalmente da CoronaVac cujo intervalo entre as doses ;e de no máximo 28 dias (recomendação do fabricante).

Orientação que foi mudada por Pazuello dois dias antes da nomeação de Queiroga, que acompanhou a questão oficialmente, pois desde 15 de março reunia-se com o general ministro, mas poderia acompanhar pela mídia que fartamente repercutiu o tema. Queiroga somente mudou a orientação em 26 de abril, tarde demais.

Os especialistas têm opinado que, por experiência com outras vacinas, um pequeno atraso tende a não ser suficiente para perda da eficácia da vacina, mas concordam que isso abre outro flanco de desconfiança e, no mínimo, fica-se por mais tempo com uma imunização menor. Em tempos de média móvel acima de 2 mil mortes e 60 mil casos novos certamente isso não é uma boa notícia.

Hoje tivemos o primeiro registro de mortes inferior a 1 mil desde 01 de março, seguindo a queda na média móvel de mortes, mas estabilidade, com discreta tendência de aumento, da média móvel de novos casos. O total de casos ativos segue muito alto. Sentimos uma queda de mortalidade como efeito da vacinação.

NO BRASIL

Registro de mortes hoje: 934Total de mortes: 422.418

Média móvel de mortes nos últimos 7 dias: 2.092

Casos confirmados em 24 horas: 31.591

Casos acumulados na pandemia: 15.182.219

Média móvel de novos casos nos últimos 7 dias: 61.177

Casos ativos: 1,307 milhão

Em (*) 113 dias de campanha, pessoas vacinadas: 35,325 milhões (16,68% da pop.)

Em segunda dose, 94 dias: 17,740 milhões de imunizados (8,38% da pop.)

NO MUNDO Casos: 159,5 milhões

Óbitos: 3.312.500

1º – E U A: 595,8 mil

2º – Brasil: 422,4 mil

3º – Índia: 246,1 mil

4º – México: 218,9 mil

5º – Reino Unido: 127,9 mil

6º – Itália: 122,8 mil

7º – Rússia: 113,3 mil

Dados JHU (Johns Hopkins University).É o que registra o diário de bordo.

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