Com o Brasil enfrentando uma crise sanitária ainda profunda, o ano de 2021 revelou falhas significativas na estratégia de combate à pandemia, evidenciadas pela interiorização do vírus e a desorganização da vacinação.
Revendo os registros de 9 de maio de 2021, percebo a gravidade da situação de um ano atrás, quando a pandemia começava a se espalhar rapidamente pelo interior do país. Naquele momento, 16% dos municípios brasileiros já registravam pelo menos uma morte por Covid-19, refletindo a expansão do vírus para além dos grandes centros urbanos. Hoje, em 2022, quase 99% dos municípios, ou 5.490, já enfrentam a pandemia de forma direta, com os efeitos da interiorização ainda muito evidentes.
Naquele período, discutia-se que os pequenos municípios teriam uma oportunidade única de controlar a propagação do vírus por meio de barreiras sanitárias, rastreamento de casos e a mobilização das equipes de saúde da família. Porém, a realidade mostrou que essas ações, fundamentais para evitar o avanço da pandemia, não foram implementadas de maneira eficaz. Faltaram investimentos em testes, treinamento adequado para os profissionais de saúde e, principalmente, o apoio necessário do Ministério da Saúde. O resultado foi a rápida disseminação do vírus, que gerou o efeito bumerangue – a transmissão que começou no interior e rapidamente alcançou os grandes centros urbanos – e o efeito sanfona, com os casos e óbitos oscilando conforme a pandemia avançava para “novos territórios”.
Infelizmente, o SUS, que deveria ser a espinha dorsal da resposta à crise, foi sistematicamente desfinanciado e enfraquecido. O Ministério da Saúde, sob a gestão de Pazuello e, posteriormente, Queiroga, não se impôs a tarefa de coordenar e fortalecer a saúde básica. O governo federal, em vez de priorizar a ação integrada de prevenção e promoção da saúde, seguiu uma linha hospitalocêntrica, o que foi um erro estratégico e comprometeu a eficácia do enfrentamento da pandemia.
Ao mesmo tempo, o processo de vacinação também enfrentou enormes desafios. A falta de coordenação e a bagunça na distribuição de vacinas foram evidentes, com vários estados e capitais paralisando a vacinação devido à falta de doses, especialmente para a segunda aplicação. A falta de um plano logístico eficaz e a dependência de insumos importados, como o IFA da China, contribuíram para o caos. A orientação inicial de poupar vacinas para garantir a segunda dose, adotada até março de 2021, acabou sendo modificada em abril, mas já era tarde demais para evitar mais danos.
Especialistas apontaram que um pequeno atraso na aplicação da segunda dose não comprometeria completamente a eficácia das vacinas, mas isso gerou desconfiança e prolongou o período de imunização parcial da população. Em um momento em que a média móvel de mortes ainda estava acima de 2 mil e novos casos estavam em torno de 60 mil por dia, essa demora não foi uma boa notícia. A queda nas mortes, embora comemorada, não foi suficiente para afastar o risco de novas ondas de infecção.
Hoje, um ano depois, o Brasil ainda luta para controlar a pandemia, com 934 mortes registradas no último dia e um total acumulado de 422.418 óbitos. Embora a média móvel de mortes tenha mostrado uma leve queda, a média de novos casos permanece alta, com mais de 60 mil casos registrados diariamente. O número de casos ativos ainda é alarmante, com mais de 1,3 milhão de pessoas em tratamento.
A vacinação, embora avançando, ainda está aquém do necessário. Até o momento, 16,68% da população recebeu a primeira dose e 8,38% completaram o esquema vacinal, o que indica um longo caminho pela frente. O Brasil segue como o segundo país com mais mortes no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Em comparação com outras nações, o Brasil tem falhado em garantir uma resposta coordenada e eficiente para a pandemia, e isso se reflete nos números globais de casos e óbitos.
O cenário atual, com as vacinas sendo administradas e o impacto positivo percebido na mortalidade, ainda esconde um sistema de saúde fragilizado, uma gestão pública ineficaz e uma população que, embora em parte vacinada, ainda enfrenta a ameaça do vírus. O desafio é grande, e o Brasil precisa urgentemente de um esforço coletivo para superar as falhas da gestão e garantir uma resposta adequada para a pandemia e suas consequências.