Com 100,6 mil mortes acumuladas, São Paulo se destaca pela gravidade da pandemia, refletindo uma condução marcada por falhas e omissões, enquanto o Brasil enfrenta a realidade de mais de 421 mil óbitos.
São Paulo, o estado mais populoso do Brasil, alcançou a triste marca de 100,6 mil mortes por Covid-19, um número alarmante que coloca o estado em uma posição destacada globalmente. Se fosse considerado um país, estaria em 8º lugar no total de óbitos, com uma taxa de mortalidade de 219,1/100 mil habitantes. O impacto de uma taxa de mortalidade de São Paulo sobre o Brasil é devastador: se o país tivesse os mesmos índices, o total de óbitos seria de 464 mil, um número que reflete a gravidade da crise no estado.
Desde o início da pandemia, a condução da crise em São Paulo foi marcada por erros e omissões. Em março de 2020, o epidemiologista Marcos Boulos, membro do comitê de crise do governador João Doria, já apontava que o estado estava seguindo as diretrizes científicas, mas com o tempo, Doria cedeu à pressão de diversos interesses. Em determinado momento, o governador se distanciou das orientações da ciência, adotando posturas mais alinhadas ao negacionismo e à retórica bolsonarista, particularmente em relação à vacina e ao enfrentamento da pandemia.
Doria, aliado de Bolsonaro nos primeiros meses da pandemia, sempre foi um defensor das políticas liberais e do mercado. Em seu governo, o estado se afastou da ideia de uma administração que prioriza o bem-estar social e a equidade, adotando uma postura mais próxima de um “balcão de negócios”. Nesse contexto, a gestão da crise se tornou mais uma oportunidade para estreitar relações com o empresariado e focar na agenda econômica do que efetivamente em medidas de contenção e proteção à saúde da população.
A falta de medidas rigorosas de contenção e a resistência a um lockdown total prejudicaram o enfrentamento da pandemia. O estado foi relutante em adotar medidas drásticas, criando fases intermediárias e promovendo flexibilizações precipitadas. A volta às aulas e a autorização para cultos religiosos presenciais, mesmo com o agravamento da situação, mostraram a falta de comprometimento com a saúde pública. Além disso, o governador, ao se concentrar em temas menores, perdeu a oportunidade de liderar uma campanha de vacinação eficaz e ampla, essencial para o controle da pandemia.
Apesar de uma leve queda na média móvel de mortes, o estado ainda enfrenta uma situação alarmante. A média móvel de novos casos se manteve estável, com o total de casos ativos muito alto. A vacina, que representa uma esperança para o fim da pandemia, ainda está em ritmo lento no Brasil, com apenas 16,65% da população recebendo a primeira dose e 8,37% completando o esquema vacinal.
No cenário nacional, o Brasil segue como o segundo país com mais mortes no mundo, com 421.484 óbitos registrados até o momento. A média móvel de mortes continua alta, e o número de casos ativos permanece significativo, o que evidencia a necessidade urgente de uma resposta mais eficaz do governo federal e dos estados. O Brasil, com suas falhas na condução da crise, está perdendo tempo precioso enquanto a pandemia segue seu curso devastador.
Em uma perspectiva global, a pandemia continua a desafiar o mundo, com mais de 158 milhões de casos e 3,3 milhões de mortes. Os Estados Unidos lideram o ranking de óbitos, seguidos pelo Brasil e Índia. A situação no Brasil, porém, é particularmente grave, dada a combinação de um sistema de saúde fragilizado, a falta de coordenação entre os diferentes níveis de governo e as políticas negacionistas que ainda dominam o discurso de parte da classe política.
O cenário descrito no diário de bordo mostra a tragédia que se desenrola no país, especialmente em São Paulo, onde a condução equivocada da crise ainda tem reflexos profundos na saúde e na vida da população. O momento exige um enfrentamento mais firme da pandemia, com a adoção de políticas públicas baseadas em evidências científicas, um compromisso real com a vacinação e a proteção das camadas mais vulneráveis da sociedade.