A Cloroquina e a Imunidade de Rebanho: O Papel de Queiroga na Gestão da Pandemia

Reflexões sobre as contradições e omissões de um ministro da Saúde diante da crise sanitária.

Durante a CPI da pandemia, o Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, foi questionado sobre o tratamento precoce com cloroquina. Em uma tentativa de se esquivar da responsabilidade, Queiroga afirmou que não poderia opinar, pois o protocolo único de tratamento para a COVID-19 ainda estava em formulação pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec). Segundo ele, por ser a última instância de análise do protocolo, não poderia se posicionar sobre o uso de medicamentos como a cloroquina. No entanto, essa postura de falsa neutralidade soa como uma estratégia de inação diante de uma política pública desastrosa que segue em curso.

É difícil acreditar na imparcialidade de Queiroga, especialmente quando se observa que ele próprio defendeu publicamente o uso de cloroquina e ivermectina em uma entrevista ao Jornal O Globo. Embora tenha falado sobre estudos observacionais que indicariam possíveis benefícios desses medicamentos, Queiroga contradiz a própria ciência, pois os estudos de maior valor são os randomizados, que podem comprovar ou refutar a eficácia de tratamentos. Ao basear suas declarações em estudos observacionais, que oferecem apenas indicações sem comprovação científica sólida, Queiroga não apenas desrespeita os critérios da medicina baseada em evidências, mas também dá sobrevida a um tratamento ineficaz e perigoso, que segue sendo amplamente defendido pelo governo.

Esse tipo de posicionamento é mais grave quando se considera a formação técnica de Queiroga. Como médico e ministro, ele tem conhecimento dos riscos envolvidos no uso de cloroquina, que, além de ineficaz contra a COVID-19, pode causar efeitos colaterais sérios. O erro de Queiroga é ainda mais evidente quando comparado a Pazuello, seu antecessor, que, em algum grau, poderia argumentar ter sido enganado ou influenciado por pressões políticas. Queiroga, por sua vez, tem as informações necessárias para entender que a cloroquina é uma armadilha fatal para a saúde pública, mas escolhe, com suas palavras e ações, defender o indefensável.

Além disso, a postura do ministro em relação à imunidade de rebanho é ainda mais preocupante. Questionado sobre a estratégia de alcançar a imunidade de rebanho, Queiroga admitiu que isso levaria a um aumento no número de óbitos. Sua resposta insinua que a imunidade de rebanho, como política de combate à pandemia, é algo que, mesmo sabendo que resulta em mortes, pode ser considerado viável. Essa fala evidencia a gestão genocida que vem sendo aplicada no Brasil, onde a ausência de um plano de ação coordenado e a lentidão da vacinação têm contribuído para o caos sanitário. Há mais de um ano, o governo federal vem empurrando uma política de imunidade de rebanho, negligenciando os cuidados necessários para proteger a população.

A falta de uma coordenação eficaz também é notada no campo das vacinas, onde Queiroga, como muitos membros do governo, se posiciona contra a quebra de patentes. A contraargumentação de Queiroga, que invoca a “imprevisibilidade biológica” para justificar a escassez de insumos, soa como uma desculpa esfarrapada. O problema real não é a imprevisibilidade do vírus, mas a falta de planejamento e a negligência na organização dos estoques e fornecimento de insumos médicos, algo que deveria ser parte da rotina do Sistema Único de Saúde (SUS), mas que foi minado pelas políticas de austeridade e pela fragilização da infraestrutura.

O governo federal tem, em grande parte, falhado na resposta à pandemia. As ações de Queiroga, assim como as de outros membros do governo, demonstram não apenas uma falta de compromisso com a saúde pública, mas também uma completa desconexão com a realidade da crise que assola o Brasil. Enquanto isso, o número de mortes segue aumentando de forma alarmante, e a vacinação avança a passos lentos, com apenas 16% da população vacinada até agora.

Esses dados refletem uma gestão ineficaz e irresponsável, que tem causado dor e sofrimento a milhões de brasileiros. O vírus, de forma previsível, segue se espalhando, enquanto as autoridades competentes se esquivam de suas responsabilidades. No fim das contas, o que se vê é uma administração que, ao invés de lutar pela vida, parece estar mais preocupada em preservar uma narrativa de incompetência e negação da ciência.

Dados da pandemia (06/05/2021):

NO BRASIL

  • Registro de mortes hoje: 2.531
  • Total de mortes: 417.176
  • Média móvel de mortes nos últimos 7 dias: 2.251
  • Casos confirmados em 24 horas: 72.559
  • Casos acumulados na pandemia: 15.009.023
  • Média móvel de novos casos nos últimos 7 dias: 59.448
  • Casos ativos: 1,318 milhão
  • Pessoas vacinadas: 34,190 milhões (16,15% da população)
  • Em segunda dose: 17,330 milhões de imunizados (8,18% da população)

NO MUNDO

  • Casos: 157,2 milhões
  • Óbitos: 3.275.700
  • EUA: 594 mil
  • Brasil: 417,2 mil
  • Índia: 234,1 mil
  • México: 218 mil
  • Reino Unido: 127,8 mil
  • Itália: 122,3 mil
  • Rússia: 112,2 mil

Fonte: Johns Hopkins University

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