Pegaram leve com Queiroga

Ontem (6) na CPI, Queiroga, perguntado sobre tratamento precoce, disse, como forma de esquivar-se, que ainda não há um protocolo único para o tratamento clínico da covid no Brasil e que este está em formulação pelo Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS). Alegou que, por ser a última instância de análise desse protocolo, não poderia opinar sobre se é ou não a favor do tratamento com cloroquina.

Se não fosse trágico, seria uma piada. O exército fabrica e distribui cloroquina, o presidente só fala disso desde março do ano passado e Queiroga não pode opinar se é contra ou a favor por que o tema está em análise fria e técnica? Obvio que é uma falsa neutralidade, pois sua inação resulta em uso da cloroquina para Covid-19. Protocolo único é muito diferente de tratamento com fármaco não autorizado e perigoso.

Queiroga sim, defende a cloroquina, tanto que o tal protocolo em formulação pela Conitec foi anunciado em entrevista ao Jornal O Globo (23/04) em que ele defendeu o tratamento com cloroquina e ivermectina afirmando “Tem vários estudos. Não vou nominar. São estudos observacionais. Os melhores estudos são os estudos randomizados, tá?”. “Estudos observacionais são evidências mais fracas, nível C. Mas não quer dizer que não possam ser empregadas”.

Na entrevista Queiroga fala de estudos observacionais que apontariam resultados positivos de cloroquina e outras drogas, o que é uma bobagem, pois ele mesmo fala que estudo que vale mesmo são os randomizados. Valem porque respondem a uma pergunta, se o medicamento funciona ou não. O estudo observacional, no máximo, apontaria alguma possível tendência, suspeita que pode se transformar em hipótese a ser comprovada por estudos metodologicamente corretos ou consistentes.

Queiroga tem formação para entender isso. Assim, seu erro é pior que de Pazuello que pode, em última instância, alegar que foi enganado. Queiroga não. Conhece o debate, sabe que estudos apontam para além da ineficácia, riscos no uso. Tenta usar seus conhecimentos para passar credibilidade e dar sobrevida ao uso criminoso de cloroquina, agora a espera de uma aprovação de protocolo. É o jeito Queiroga de fazer o que o chefe manda.

Sobre imunidade de rebanho disse o ministro (perguntado sobre sua opinião), “o problema de adotarmos essa estratégia a gente PODE CONTAR com o aumento de óbitos”. Pode? Excelência, imunidade de rebanho mata, como é possível ver no Brasil agora, ou achamos que o fato de nunca ter havido uma estratégia coordenada nacionalmente de isolamento e quase quatro meses de vacinação com pouco mais de 8% da população imunizada é o que? Vivemos há 416 dias a estratégia federal de imunidade de rebanho genocida.

Queiroga que disse que não poder opinar sobre cloroquina sentiu-se à vontade em opinar sobre quebra de patentes, posicionando-se contra, na contra mão dos países em desenvolvimento e agora até dos EUA. Sobre as sucessivas crises de insumos o ministro inventou a expressão “imprevisibilidade biológica”, uma reedição do esqueceram de combinar com o vírus.

É um absurdo falar em imprevisibilidade. Faltou foi planejamento e acompanhamento dos fluxos de fornecimento e estoque para contingências. Coisa básica que inclusive faz parte da cultura organizacional do SUS que foi sendo minada pelo desmonte estrutural promovido pelo teto de gastos, mas também se fragilizou pela substituição de quadros técnicos por militares promovida por Teich, mas aí Queiroga não se compromete por erros do passado, nem faz nada para repará-los.

E o vírus (previsivelmente) agradece.

NO BRASIL
Registro de mortes hoje: 2.531
Total de mortes: 417.176
Média móvel de mortes nos últimos 7 dias: 2.251
Casos confirmados em 24 horas: 72.559
Casos acumulados na pandemia: 15.009.023
Média móvel de novos casos nos últimos 7 dias: 59.448
Casos ativos: 1,318 milhão
Em (*) 110 dias de campanha, pessoas vacinadas: 34,190 milhões (16,15% da pop.)
Em segunda dose, 91 dias: 17,330 milhões de imunizados (8,18% da pop.)

NO MUNDO
Casos: 157,2 milhões
Óbitos: 3.275.700
1º – E U A: 594 mil
2º – Brasil: 417,2 mil
3º – Índia: 234,1 mil
4º – México: 218 mil
5º – Reino Unido: 127,8 mil
6º – Itália: 122,3 mil
7º – Rússia: 112,2 mil
Dados JHU (Johns Hopkins University).

É o que registra o diário de bordo.

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