Não é possível ser um mezzo negacionista, mezzo cientista

Não serei eu a passar um pano na gestão do Mandetta, mesmo entendo a mediação tática da CPI de ataque frontal ao negacionismo raiz com a escolha dos principais alvos. Evidente que o general Pazuello foi o comandante da Blitzkrieg da expansão do vírus, obedecendo ao seu comandante Bolsonaro, quando seguiu irrestritamente a falsa tese científica da imunidade de rebanho. Que até agora se mostrou 412 mil vezes errada.

Mas o conjunto da obra de Mandetta é muito ruim. A começar pela sua gestão do SUS de viés privatizante e absolutamente concordante com o desmonte pelo subfinanciamento. Não me recordo de Mandetta ter ido a público postular contra a emenda constitucional 95, por exemplo. Mandetta também foi o feliz comandante da expulsão dos médicos cubanos e do desmonte do programa mais médicos. Belo currículo para quem se elegeu com financiamento de empresas de planos de saúde.

Pela sua condução da pandemia, fiz muitas críticas a Mandetta no meu diário de bordo, desde a mais conceitual, que foi a adoção de um modelo hospitalocêntrico em detrimento da atenção básica com ações de educação em saúde, até o fato de não apostar na mais elementar orientação da OMS – Organização Mundial da Saúde que é a testagem em massa e o rastreamento de contatos com medidas de quarentena. O ministro Mandetta também negligenciou a articulação das ações pactuadas com os secretários estaduais e representação dos secretários municipais de saúde.

Seguindo nesse exercício de memória, no dia 4 de abril do ano passado, mal começávamos a pandemia, Mandetta já anunciou critérios para relaxar medidas de isolamento. No mesmo dia definiu modelos de isolamento em que incluiu o Isolamento Seletivo, em que pessoas fora do “grupo de risco” poderiam circular. Esse modelo á na verdade o chamado isolamento vertical, efusivamente defendido por Bolsonaro e que na prática é uma ação complementar da chamada imunidade de rebanho.

Para não me alongar, pois imagino que me fiz compreender, concluo transcrevendo texto que publiquei em 7 de abril do ano passado, quando estava o cai não cai de Mandetta. Escrevi: “O -fica Mandetta- só logrou êxito porque houve recuo por parte do Ministério da Saúde. A disputa de ontem acabou criando uma blindagem contra as críticas dos que avaliam as ações ministeriais como insuficientes ou mesmo erradas. Sabe o ruim com ele, pior sem ele? Mas não nos iludamos, entre o combate correto e consequente à pandemia e as insanidades do presidente não é possível meio termo ou conciliação”.

Esse é um dos efeitos colaterais do bolsonarismo que coloca o sarrafo tão baixo, que qualquer coisa fica parecendo sensata ou mesmo correta. Mas não são. É um insulto à memória de tantos mortos esquecer dos erros desde o início da pandemia. Mandetta (não me contenho e volto a carga), quando Bolsonaro, em 11 de abril, promoveu aglomeração em Águas Lindas/GO, limitou-se a dizer que não julgaria o Presidente.

Foi omisso por cálculo político, alimentou a ilusão de que ganharia a queda de braço contra Bolsonaro obtendo plenos poderes. Depois foi fazendo concessões, tentou compor em temas como o isolamento vertical. Deu no que deu, para ele e, muito pior, para o Brasil. Por isso digo que o mantetismo é a doença infantil do antibolsonarismo. Não me engana que eu não gosto.

 NO BRASIL
Registro de mortes hoje: 3.025
Total de mortes: 411.854
Média móvel de mortes nos últimos 7 dias: 2.361
Casos confirmados em 24 horas: 69.378
Casos acumulados na pandemia: 14.860.812
Média móvel de novos casos nos últimos 7 dias: 59.182
Casos ativos: 1,286 milhão
Em (*) 108 dias de campanha, pessoas vacinadas: 32,900 milhões (15,54% da pop.)
Em segunda dose, 89 dias: 16,720 milhões de imunizados (7,90% da pop.)

 NO MUNDO
Casos: 155,5 milhões
Óbitos: 3.246.600
1º – E U A: 592,3 mil
2º – Brasil: 411,9 mil
3º – Índia: 226,2 mil
4º – México: 217,3 mil
5º – Reino Unido: 127,9 mil
6º – Itália: 121,7 mil
7º – Rússia: 111,5 mil
Dados JHU (Johns Hopkins University).

É o que registra o diário de bordo.

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