A falta de segunda dose e sabotagem à vacinação

É sempre muito difícil avaliar a pandemia comparando países, pois as realidades são muito diversas. Assim, é mais produtivo avaliar as condições locais e analisar os determinantes diversos à luz, no nosso caso, da nossa própria história. Por exemplo, a vacinação é lenta não somente porque muitos países estão indo muito mais rápidos, mas porque aqui já tivemos muitos casos de vacinação em massa, a exemplo da contra a gripe, em número maior de doses e prazos muito menores.

Ainda sobre vacinação, o que temos é poucas vacinas e tivemos episódios fartamente noticiados de recusa de vacinas, desqualificação da “vachina”, não apoio de esforços da OMS para um consórcio de vacinas, sabotar esforços da Índia na discussão de quebra de patentes, e por aí vai. Isso nos permite dizer que estamos indo, propositalmente, lentos.

Mas para não dizer que não falei de números, vamos a eles. O Brasil é o quinto país do mundo em território (isso é grande) e o sexto em população, e é o segundo com maior número total de mortes pela pandemia entre esses, pelos dois critérios, ou seja, estamos apenas atrás dos EUA que é maior e mais populoso.

No parâmetro mortes proporcional à população (mortes/100k = mortes por 100 mil, mais usado aqui) o Brasil está agora em 12º lugar. Só que 10 desses 11 países tem população inferior a 12 milhões e tem até mesmo Montenegro com 600 mil e San Marino com 30 mil habitantes. Somente a Itália é que podemos considerar um país com população grande, são mais de 60 milhões de habitantes.

Há cerca de três meses o Brasil tinha outros 6 países com mais mortes por 100K, Argentina, que ultrapassamos em 08 de fevereiro, França em 18 de março, Espanha em 09 de abril, Peru em 13 de abril, EUA em 15 de abril e Reino Unido em 29 de abril. Seguido o atual ritmo, deveremos passar a Itália em 15 a 20 dias. Isso dá conta de como a situação da pandemia se agravou entre nós, não sendo um mero exercício de comparação. Todos esses países estão na frente do Brasil em vacinados proporcionalmente à população.

Outro fator a ser considerado é que temos realidades regionais muito distintas, refletindo inclusive no desenvolvimento da pandemia. No caso das mortes por 100K, por exemplo, temos variação de 104/100k no Maranhão até 305/100k no Amazonas, sendo a média nacional de 193/100k. Se considerássemos os nossos estados como países, 11 dos nossos 27 estados estariam entre esses 11 que estão na frente do Brasil hoje, e o Amazonas seria o de maior mortalidade no mundo.

Mas comparar tem menos importância do que ter dados e saber analisá-los para definir políticas de isolamento e de vacinação, por exemplo. Isolamento cada um fez e faz o que quer, consegue ou o que pode. Vacinação, ao contrário, tem um critério único para o país todo. O que para mim é indicador, os dois casos, de falta de coordenação nacional que estaria a cargo do Ministério da Saúde e de pactuações entre os entes estaduais e municipais.

E por falar em vacinação, a mais recente trapalhada geral é a quebra da segunda dose da vacinação que atingiu 8 capitais nesta semana e dezenas de cidades pelo país todo. A confusão é que no dia 21 de março, ainda sob comando de Pazuello, o Ministério da Saúde orientou que se deveria usar todas as vacinas para primeira dose, não estocando para a segunda. O objetivo seria o de dar números mais expressivos e bater recordes diárias de inoculações, sem planejamento do fluxo para a segunda dose.

A orientação somente foi alterada oficialmente por Queiroga em 26 de abril, mas o estrago já estava feito. Eu já escrevi sobre o tema dizendo que a ordem de gastar o estoque tinha sido dada já na era Queiroga, o que sigo sustentando pelo fato de que o atual ministro foi anunciado em 15 de março e, até a sua posse efetiva em 23 de março, acompanhava as ações do Ministério, ao menos deveria.

Pazuello inclusive teve reunião com o então futuro ministro, já anunciado, no dia 16 de março, ocasião em que afirmou que Queiroga daria continuidade ao excelente trabalho feito até então. Foi uma decisão da transição Pazuello/Queiroga.

Essas coisas somente parecem estranhas se considerarmos que, em algum momento ou medida, o que se quis foi combater o vírus. De fato, Queiroga segue o plano original, que é ode espalhar o vírus. Falhar a segunda dose é sim sabotagem do processo de imunização.

Não se sabe se haverá déficit na imunização pelo atraso, que deverá variar bastante, mas se sabe que, no mínimo, pessoas ficarão por mais tempo com a imunidade reduzida a espera do reforço e, portanto, mais sujeitas a infecção pelo vírus e com chance maior de desenvolver formas mais graves da doença.

Condenaremos esses senhores pelos seus erros, não por falta de coerência. O Plano Nacional Genocida segue firme.

 NO BRASIL
Registro de mortes hoje: 1.210
Total de mortes: 407.775
Média móvel de mortes nos últimos 7 dias: 2.407
Casos confirmados em 24 horas: 28.493
Casos acumulados na pandemia: 14.753.983
Média móvel de novos casos nos últimos 7 dias: 59.224
Casos ativos: 1,266 milhão
Em (*) 106 dias de campanha, pessoas vacinadas: 31,873 milhões (15,05% da pop.)
Em segunda dose, 87 dias: 15,857 milhões de imunizados (7,49% da pop.)

 NO MUNDO
Casos: 154 milhões
Óbitos: 3.222.700
1º – E U A: 591,1 mil
2º – Brasil: 407,8 mil
3º – Índia: 218,9 mil
4º – México: 217,2 mil
5º – Reino Unido: 127,8 mil
6º – Itália: 121,2 mil
7º – Rússia: 110,8 mil
Dados JHU (Johns Hopkins University).

É o que registra o diário de bordo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.