O impacto da lentidão na vacinação e os desafios para a imunização completa no Brasil
O governo anunciou uma nova revisão no cronograma do Plano Nacional de Imunização (PNI), agora com um aumento na entrega de vacinas para o mês de maio, com 4 milhões de doses adicionais previstas, caso seja autorizada a importação da vacina Sputnik V. Embora essa ampliação seja um avanço, ainda estamos longe de alcançar uma cobertura vacinal segura. Os números são impressionantes, mas as projeções trazem consigo uma dose de realismo, dada a situação atual da pandemia e os desafios logísticos e de controle sanitário.
Até agora, cerca de 47 milhões de pessoas já receberam ao menos uma dose da vacina, e aproximadamente 60 milhões de doses foram distribuídas no país. Com a adição das doses de maio, o total de vacinas aplicadas deve superar 94 milhões até junho, sendo uma parte dedicada ao estoque necessário para a segunda dose e a manutenção de reservas para imprevistos, como problemas de logística e acidentes de armazenamento. No entanto, a estimativa mais realista aponta que o número de vacinas aplicadas até o final de junho ficará em torno de 80 milhões, o que corresponde a cerca de 40 milhões de pessoas totalmente imunizadas, considerando a aplicação das duas doses.
Apesar dos avanços, o cenário de vacinação ainda é insuficiente. Com mais de 150 milhões de adultos “vacináveis” no Brasil e a expectativa de que a vacinação se estenda a jovens a partir de 14 anos, a cobertura vacinal segura está ainda distante. O ritmo lento da vacinação e o agravamento da pandemia em países como a Índia podem afetar o cumprimento dos contratos de fornecimento de insumos para a produção da vacina do Bio-Manguinhos/FIOCRUZ. Essa instabilidade no fornecimento de vacinas pode dificultar ainda mais a imunização em massa, que é crucial para controlar a disseminação do vírus.
Outro fator que contribui para o prolongamento da pandemia no Brasil é a persistente alta de casos novos, que se mantém em torno de 60 mil por dia. Isso implica em um risco crescente de surgimento de novas variantes do vírus, que podem impactar a eficácia das vacinas. O comportamento dos gestores em relação ao controle da pandemia também é um agravante. A lentidão em adotar medidas rigorosas, como o lockdown, e a pressa em flexibilizar as restrições frente a pequenas flutuações nos indicadores de internação e morte, têm contribuído para a manutenção de um cenário de risco elevado. As flexibilizações “controladas” e as fases intermediárias, muitas vezes desconsiderando outros indicadores, como o número de casos ativos, têm gerado um falso senso de segurança.
Embora em várias regiões do país os indicadores mostrem uma aparente melhora, a situação ainda é alarmante, com níveis de casos ativos muito acima dos índices registrados durante as fases mais rígidas do isolamento. A flexibilização precoce, sem um controle efetivo da pandemia, pode levar a uma nova onda de contágio, com o agravamento da crise. Sem uma vacinação acelerada e com a chegada de cepas mais agressivas que afetam principalmente os jovens, é provável que o Brasil enfrente novos recordes de casos e mortes.
NO BRASIL
- Registro de mortes hoje: 2.278
- Total de mortes: 406.565
- Média móvel de mortes nos últimos 7 dias: 2.422
- Casos confirmados em 24 horas: 59.528
- Casos acumulados na pandemia: 14.725.490
- Média móvel de novos casos nos últimos 7 dias: 59.725
- Casos ativos: 1,300 milhão
- Em 105 dias de campanha, pessoas vacinadas: 31,700 milhões (14,97% da população)
- Em segunda dose, 86 dias: 15,809 milhões de imunizados (7,47% da população)
NO MUNDO
- Casos: 153,3 milhões
- Óbitos: 3.212.500
- 1º – EUA: 590,7 mil
- 2º – Brasil: 406,6 mil
- 3º – México: 216,9 mil
- 4º – Índia: 215,5 mil
- 5º – Reino Unido: 127,8 mil
- 6º – Itália: 121 mil
- 7º – Rússia: 110,5 mil
Dados da Johns Hopkins University
A luta contra a pandemia segue em curso, e as projeções indicam que, para que o Brasil consiga um controle efetivo da situação, é necessário acelerar a vacinação, adotar medidas mais rígidas de controle de circulação e estar preparado para lidar com as novas variantes do coronavírus.