A morte é resultado de nossa imperfeição. Nossa própria incompletude proporciona a instabilidade sobre a qual nos deterioramos, perdemos progressivamente nossa potência e enfim voltamos ao pó.
A cicatriz umbilical, símbolo da vida, que teima como centro do nosso corpo, é a marca do nascimento e a lembrança de que viemos ao mundo desgarrados de outro ser e, desde essa separação, incompletos e, por isso, fadados a morrer.
Em contrapartida, justamente pela nossa incompletude constitutiva, condição de nossa mortalidade, reagimos ao desaparecimento com o Amor. O amor é a saudade da vida eterna. Só quando amamos criamos a memória, capaz de simbolicamente nos salvar do destino da desintegração.
A morte e o amor se abraçam como o destino dos seres imperfeitos. É a sina da morte de um lado e as raízes da vida em profundidade com o amor de outro que correspondem à condição humana. A rigor, o amor é a dádiva dos mortais. Por esta razão, poderíamos ousar dizer que os deuses, imortais por definição, são incapazes de amar.
O único sentimento possível de um deus imortal seria a misericórdia por nossa incompletude ou a inveja por nossa capacidade de amar. Esse tipo de Deus, precisa de nossa adoração, para subjugar nossa mortalidade. Apenas um Deus que se faz homem e se deixa morrer é capaz de experimentar o amor e amar os homens. E somente um Deus que ama pode adquirir o dom sublime absolutamente humano e anti-divino que é o perdão.