O inimigo avança sem resistência

Um dos fenômenos mais interessantes da pandemia tem sido seu processo de interiorização. Como sabemos, inicialmente foi do litoral ao interior, das capitais e grandes centros urbanos para os centros secundários e para as pequenas cidades, até atingir os rincões. Essa foi a lógica predominante, sem prejuízo de casos singulares como o de pessoas que foram a uma cidade muito pequena, em uma festa ou reunião qualquer, e acabaram infectando outras pessoas.

O fato é que sem medidas de isolamento, sem rastreamento de contatos e, principalmente, sem barreiras sanitárias, as cidades foram caindo uma a uma, sendo invadidas pelo vírus que tem como vetor pessoas e não pulgas, como delirou o ministro Onyx Lorenzoni. A ideologia que predominou foi a da imunidade de rebanho em que, em vez de barreira, estrada pavimentada para o vírus.

De sorte que a dinâmica de contágio deixou de ter um sentido “único” e passou a espalhar como uma rede ou até mesmo revertendo o fluxo, no fenômeno que ficou conhecido como efeito bumerangue. Saiu da capital para o interior e depois voltou para a capital que assim experimentou e poderá experimentar uma segunda (terceira, quarta, …) onda.

Barreiras sanitárias deveriam ser mais amplamente usadas e serem levadas muito a sério, protegendo localidades menores e que também tem recursos de cuidado em saúde mais escassos, por isso acabam enviando pacientes a outros municípios, aumentando (retroalimentando) a circulação do vírus. Evidente que testagem seria fundamental e sabemos que não havia teste suficiente, apesar de estoques do Ministério da Saúde armazenados e perdendo prazo de validade.

Da parte da turma da tecnologia, muito se falou na necessidade de georreferenciamento capaz de acompanhar a difusão da pandemia no tempo e no espaço geográfico. Tudo isso, insisto, de grande utilidade na medida e desde que houvesse um esforço de coordenação com uma diretriz coerente em todo território nacional, o que nunca de fato aconteceu.

400 mil mortes por covid-19. E a dor não passa
Imagem em texto aborda o número de mortos no Brasil e a pandemia fora de controle. Banco de imagens.

A que aconteceu é que já em agosto mais de 90% dos municípios apresentavam casos confirmados da doença e em dezembro já eram 100% dos municípios, sendo Cerro do Abaeté/MG o último a registrar um caso do Covid-19, hoje são 12 casos e nenhum óbito, numa cidade que tem menos que 1,2 mil habitantes.

No caso de óbitos por Covid-19 ontem eram 90 cidades sem registro de mortes, 1,6% dos 5.570 municípios do país. Minas tem a maioria, são 33 municípios sem mortes registradas. Rio Grande do Sul são 10, Paraíba e Rio Grande do norte – 8, São Paulo – 6, Goias, Piaui e Tocantins – 5, Mato Grosso, Paraná e Santa Catarina – 3 e Maranhão – 1. Portanto, são 12 dos 27 estados em que há municípios sem registro de mortes.

Esse dado pode estar enviesado por subnotificação ou por óbito sem identificação do local definida. Esses casos são 1.108 em 10 estados e Minas tem a maioria, 33 casos. Se há um morto, ele tem um endereço e se não foi registrado, é possível que seja um desses municípios em que não consta registro de óbitos. Quanto a possibilidade de subnotificação, a hipótese é que, sendo cidades pequenas e muitas delas isoladas, é possível a existência de mortes fora do hospital, sem testagem e atribuída a outras causas. Um dos indícios de subnotificação é o número excedente de óbitos no geral em comparação a series históricas de anos anteriores, dado apontado em diversos estudos.

Na mesma linha temos o aumento de notificação de mortes com sintomas respiratórios não associados diretamente à Covid-19. Não se trata de aumentar as estatísticas como método de ampliar a percepção da crise, até pelo fato de que 400 mil mortes já é um dado escandaloso. Mas é fundamental para o conhecimento mais aprofundado da pandemia que forneça ferramentas para enfrentá-la agora e enfrentar possíveis novas epidemias que possam nos atingir.

Hoje a média móvel de mortes no Brasil volta a subir e já são 99 dias consecutivos com média móvel superior a mil mortes e 44 dias superior a 2 mil. Passamos de 400 mil mortes.

NO BRASIL

Registro de mortes hoje: 3.074

Total de mortes: 401.417

Média móvel de mortes nos últimos 7 dias: 2.523

Casos confirmados em 24 horas: 69.079

Casos acumulados na pandemia: 14.592.886

Média móvel de novos casos nos últimos 7 dias: 60.107

Casos ativos: 1,254 milhão

Em (*) 103 dias de campanha, pessoas vacinadas: 31,099 milhões (14,69% da pop.)

Em segunda dose, 84 dias: 14,999 milhões de imunizados (7,08% da pop.)

NO MUNDO Casos: 151,6 milhões

Óbitos: 3.184.400

1º – E U A: 589,2 mil

2º – Brasil: 401,4 mil

3º – México: 215,9 mil

4º – Índia: 208,3 mil

5º – Reino Unido: 127,7 mil

6º – Itália: 120,5 mil

7º – Rússia: 109,7 mil

Dados JHU (Johns Hopkins University).É o que registra o diário de bordo.

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