ANVISA x SPUTNIK V

Sputnik V (o ‘V’ é de vacina e não 5) depois de ser liberada há três dias pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações para ser comercializada, a ANVISA resolve não autorizar a importação da vacina alegando uma falha grave.

Aconselho matéria do G1 com entrevista com Oscar Bruna-Romero, professor de doenças infecciosas e vacinas no Departamento de Microbiologia da UFSC. A matéria, da qual reproduzo partes, dá conta de que a ANVISA descobriu que um dos dois tipos de vírus que compõe a vacina estaria se reproduzindo (replicando) e os tais vírus vetores não deveriam fazer isso.

O professor explica que, se de fato o vírus (adenovírus) se reproduzir no organismo (que é diferente de se reproduzirem em testes, pois os testes podem ser altamente sensíveis), poderia causar um resfriado. Aspas para o professor: “De forma resumida, a replicação do vetor significa que a Rússia falhou no controle de qualidade da vacina, mas não quer dizer que a Sputnik V deu errado e nem que as pessoas que a recebem podem ficar gravemente doentes”.

Me parece que, considerando a emergência e a uma correta avaliação dos reais riscos, tenha-se que decidir o que é a melhor escolha. Não fosse uma pandemia que já matou entre nós 400 mil pessoas, seria fácil recusar a vacina, para sempre ou exigir correções para os próximos seis meses, talvez.

A reação do laboratório foi subir vários tons. Negou que haja adenovírus com capacidade de se replicar, desafia a ANVISA para debate na comissão do congresso brasileiro que cuida do tema, afirma que há pressão política dos EUA para essa decisão e, a meu ver o melhor argumento, lembra que 62 países aprovaram o uso e já milhões de doses foram aplicadas sem relatos de adoecimento dos vacinados.

Também exibem em suas redes sociais estudos comparativos com dados oficiais de México, Argentina e Hungria em que a SPUTNIK V se sai melhor tanto em eficácia na prevenção das infecções como em efeitos adversos em relação a AstraZeneca, SinoVac, Pfizer e outras.

O fato que a extrema politização do tema pode estar gerando um cuidado para além do razoável ou os defensores da liberação, pela urgência, estão como que baixando a guarda. Mas penso que esse assunto se arrasta a tempo demais. Há notícias de tratativas e reuniões com a ANVISA e os responsáveis pela vacina desde outubro e em novembro foram feitas reuniões conjuntas.

Ou seja, faltou coordenação do governo federal e seus diversos ministérios e órgãos para identificar e resolver problemas. Mas se isso fosse a regra, poderíamos nem estar precisando dessa vacina especificamente. Antes de desconfiar da ANVISA e particularmente de seus técnicos, o que se tem é a certeza de que o estado brasileiro tem trabalhado contra os esforços para se ter vacina para todos e todas.

Como demonstra o veto de R$ 200 milhões feito pelo Jair Bolsonaro, recurso destinado no orçamento para o desenvolvimento da vacina contra Covid-19 capaz de ser feita integralmente no país, sem necessidade de importar insumos. Vacina pesquisada na USP Ribeirão e que foi apresentada com pompa pelo ministro Marcos Pontes, anúncio feito como uma espécie de resposta ao de Doria sobre a vacina brasileira que está sendo desenvolvida pelo Instituto Butantan, a ButanVac.

A decisão do corte teve requintes de crueldade, pois Bolsonaro convidou Pontes para a sua live das quintas (dos quintos?) para justamente falar da vacina. Dia seguinte, o veto. Pontes fez o papel que ele mais gosta, ou pelo menos o que ele mostra mais preparo, o de bobo da corte. Como fez em abril do ano passado, apresentando de um remédio “secreto” que seu ministério estava estudando, que teria 95% de eficácia contra a Covid-19 e que logo depois saberíamos tratar-se do inócuo (para Covid-19) vermífugo Annita.

A questão séria, de fato, é que cortando a verba, joga se pela janela a oportunidade de termos algo nada banal como segurança sanitária frente à pandemia de uma doença que dá pinta de que continuará nos fustigando, inclusive necessitando, como no caso das gripes, de vacinação periódica.

Sem contar que quando se desenvolve expertise para uma vacina, temos meio caminho andado para outras. A isso se dá o nome de inovação, que rende conhecimento e empregos qualificados, além de saúde.

R$ 200 mil sairia barato.

 NO BRASIL
Registro de mortes hoje: 3.019
Total de mortes: 398.343
Média móvel de mortes nos últimos 7 dias: 2.379
Casos confirmados em 24 horas: 77.266
Casos acumulados na pandemia: 14.523.807
Média móvel de novos casos nos últimos 7 dias: 57.384
Casos ativos: 1,275 milhão
Em (*) 102 dias de campanha, pessoas vacinadas: 30,665 milhões (14,48% da pop.)
Em segunda dose, 83 dias: 14,519 milhões de imunizados (6,86% da pop.)

NO MUNDO
Casos: 150,7 milhões
Óbitos: 3.169.400
1º – E U A: 588,2 mil
2º – Brasil: 398,3 mil
3º – México: 215,5 mil
4º – Índia: 204,8 mil
5º – Reino Unido: 127,7 mil
6º – Itália: 120,3 mil
7º – Rússia: 109,4 mil
Dados JHU (Johns Hopkins University).

É o que registra o diário de bordo.

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