100 dias de (pouca) vacinação

Com cem dias de campanha de vacinação é útil ter algumas informações em mente na hora de avaliarmos o tamanho da encrenca em que estamos.

Uma delas é a guerra de números:
• 57,2 milhões é o total de doses enviadas aos estados e municípios;
• 41,6 milhões foram as doses inoculadas;
• 29 milhões é o total de pessoas vacinadas, menos que o total de doses da vacina, pois algumas pessoas receberam duas doses;
• 12,6 milhões são as pessoas imunizadas (por enquanto as vacinas usadas exigem duas doses), que totalizam 6% da população brasileira (dados de ontem).

As redes bolsonaristas usam o número de doses distribuídas para sustentar a versão de que os municípios estariam atrasando de propósito, para sabotar o trabalho do mito.

Bobagem, há vários motivos que explicam essa diferença, como a demora para a chegada em cada um dos 5.570 municípios, dados ainda não inseridos no sistema, reserva de contingência como possíveis perdas no transporte para lugares isolados e eventualmente demora para vacinar por falta de equipe, falta de pessoal treinado e coisas nessa linha.

Outro motivo é que os muitos municípios não usam todas as doses de uma vez entendendo que tem que haver reserva para a segunda dose, principalmente da CoronaVac (Butantan) cuja dose 2 tem que ser dada em até 28 dias. Procedimento inicial do PNI que depois foi modificado.

Alias, foi em 20 de março, já na gestão de Queiroga, que foi passada a orientação de não mais estocarem para a segunda dose. A ideia era acelerar a vacinação, medida que foi adotada pela maioria dos estados e municípios. Acontece que agora está faltando vacinas para a segunda dose. O motivo é o atraso na produção do Butantan pelo fluxo de insumos. Ocorre que no caso da CoronaVac, com intervalo de 14 a 28 dias para as duas doses, a orientação segura seria mesmo a de estocar.

Felizmente o atraso, segundo especialistas, não invalida a dose inicial. Parece que o maior risco é a imunização mais baixa da dose única por mais tempo, aumentando a possibilidade de infecção e quadros mais graves da doença. Agora a urgência é dar prioridade máxima a quem precisa da segunda dose, até com esforço de identificar onde há estoque e redistribuir, até que novos lotes estejam disponíveis.

Mas temo que isso seja demais para um ministro da saúde que hoje resolve atacar governadores e prefeitos que estariam atrapalhando a harmonia do PNI. Frente a crise da segunda dose, o ministro diz que pediu para sua equipe de comunicação mudar a forma de divulgação dos números de doses de vacina distribuídas e aplicadas para não causar “tanto calor” sobre a questão. Sem explicar o que exatamente quis dizer, parece que frente a má notícia, decidiram matar o mensageiro.

Como o intervalo de aplicação das doses da AstraZeneca (FIOCRUZ/Manguinhos) é de 12 semanas, é mais possível controlar o fluxo para não haver escassez para a segunda dose, mas como há constantes anúncios de alteração (para menos) no cronograma de entrega de vacinas do PNI, é preciso estarmos atentos, pois o risco é real e pode ter proporções ainda maiores.

Pela lentidão que segue o PNI, podemos dizer que são cem dias sem vacinação, ao menos para os 86% das pessoas que ainda esperam a vez.

NO BRASIL
Registro de mortes hoje: 1.279
Total de mortes: 392.204
Média móvel de mortes nos últimos 7 dias: 2.451

Casos confirmados em 24 horas: 31.044

Casos acumulados na pandemia: 14.370.456

Média móvel de novos casos nos últimos 7 dias: 56.106
Casos ativos: 1,346 milhão

Em (*) 100 dias de campanha, pessoas vacinadas: 29,540 milhões (13,95% da pop.)
Em segunda dose, 81 dias: 13,100 milhões de imunizados (6,19% da pop.)

NO MUNDO
Casos: 149 milhões
Óbitos: 3.139.700
1º – E U A: 586,6 mil
2º – Brasil: 392,2 mil
3º – México: 215 mil
4º – Índia: 197,9 mil
5º – Reino Unido: 127,7 mil
6º – Itália: 119,5 mil
7º – Rússia: 108,6 mil
Dados JHU (Johns Hopkins University).

É o que registra o diário de bordo.

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