Em meio à guerra de narrativas e dados conflitantes, o Brasil enfrenta uma lenta e ineficiente campanha de vacinação, enquanto a pandemia avança e as mortes se acumulam. A falta de planejamento e coordenação agrava ainda mais o quadro da crise sanitária.
Passados cem dias desde o início da campanha de vacinação, os números sobre o andamento da imunização no Brasil são preocupantes. Até ontem, foram enviadas 57,2 milhões de doses aos estados e municípios, dos quais 41,6 milhões foram aplicadas. No entanto, o total de pessoas vacinadas é de 29 milhões, já que muitas pessoas precisam receber duas doses da vacina para ficarem completamente imunizadas. Até o momento, apenas 12,6 milhões de brasileiros, ou 6% da população, receberam as duas doses e estão imunizados.
Em um cenário de escassez de vacinas, as redes bolsonaristas tentam desviar a atenção da lentidão da vacinação ao acusar os municípios de sabotarem o trabalho do governo. Porém, as razões para a lentidão são diversas e vão desde a demora na chegada das doses aos municípios até a falta de equipes capacitadas para aplicar as vacinas. Em muitos casos, as prefeituras optam por reservar doses para a segunda aplicação, especialmente da vacina CoronaVac, que exige um intervalo de 28 dias entre as doses.
Em 20 de março, já sob a gestão do ministro Queiroga, o governo orientou que os municípios não mais estocassem doses para a segunda aplicação, com o intuito de acelerar o processo de imunização. No entanto, essa decisão levou a um problema sério: a escassez de vacinas para a segunda dose. O atraso na produção da CoronaVac, causado pela falta de insumos, fez com que muitos brasileiros não recebessem a segunda aplicação dentro do prazo recomendado. Isso não invalida a primeira dose, mas aumenta o risco de infecção e de casos mais graves da doença.
O ministro da Saúde, ao invés de assumir a responsabilidade pela crise da segunda dose, tenta minimizar a situação, alterando a forma de divulgação dos números de vacinas distribuídas e aplicadas para não causar “tanto calor” sobre o assunto. Ao invés de enfrentar a realidade da escassez e dos atrasos, a estratégia do governo parece ser silenciar a crítica, tentando esconder o problema sob a carpet.
A AstraZeneca, outra vacina amplamente utilizada no Brasil, tem um intervalo de 12 semanas entre as doses, o que permite um controle maior sobre o fluxo de vacinas e reduz o risco de escassez. No entanto, com as constantes mudanças no cronograma de entregas, a incerteza continua. O governo ainda não tem uma resposta clara sobre como irá garantir que todos os brasileiros recebam a segunda dose no prazo correto.
Com a vacinação avançando lentamente, a população brasileira segue à mercê da pandemia, sem uma resposta eficaz do governo. Atualmente, 86% da população ainda espera a sua vez de ser vacinada, enquanto as mortes continuam a se acumular. O Brasil já registrou 392.204 óbitos, com uma média móvel de 2.451 mortes diárias. O país segue sendo um dos epicentros da pandemia, atrás apenas dos Estados Unidos, com 586,6 mil mortes.
As estatísticas globais também são alarmantes. O mundo já ultrapassou a marca de 149 milhões de casos e 3,1 milhões de mortes, com destaque para os Estados Unidos, Brasil, México, Índia e Reino Unido, que somam as maiores quantidades de óbitos.
Enquanto isso, o Brasil segue tentando recuperar o tempo perdido, com uma vacinação que ainda está longe de ser eficiente o suficiente para controlar a pandemia. A falta de liderança e a ineficiência nas ações do governo são fatais para o país, que continua pagando um preço alto pela gestão desastrosa da crise sanitária.