Em meio ao aumento de óbitos e flexibilização das medidas restritivas, a gestão da pandemia no Brasil se mantém repleta de incoerências, evidenciadas por decisões que parecem desafiar a lógica e a saúde pública.
Hoje, em Minas Gerais, o estado registrou 493 mortes pela Covid-19, o segundo maior número de óbitos em um único dia, apenas atrás do recorde de 508 mortes registrado em 7 de abril. Mas, ao mesmo tempo, o governo estadual decidiu que 220 cidades iriam avançar para a Onda Vermelha, uma fase mais flexível do que a Onda Roxa, permitindo a reabertura de shoppings, bares e restaurantes. Isso gerou uma evidente contradição, principalmente quando se observa que, somando essas 220 cidades, agora 796 dos 853 municípios mineiros saíram da fase roxa, deixando apenas 57 em restrição mais rigorosa.
Essa flexibilização ocorre justamente em um contexto de recorde de mortes, uma situação que desafia a lógica e as recomendações da comunidade científica. As contas, de fato, não fecham. Assim como outras falas e atitudes que ilustram a tragédia da gestão da pandemia no Brasil, um dos exemplos mais emblemáticos vem de Marcelo Queiroga, atual ministro da Saúde. Em suas declarações, Queiroga afirmou que o presidente Bolsonaro é “um excelente comunicador” e “o maior ativo no enfrentamento à pandemia”, tentando justificar o uso de tratamentos sem comprovação científica e a manutenção do cargo à custa de declarações dúbias.
É impossível não refletir sobre o impacto das palavras e ações de figuras como Bolsonaro, que, em uma entrevista ao apresentador Sikera Jr, afirmou que as Forças Armadas poderiam ser chamadas para “cumprir o artigo 5º”, defendendo a liberdade de ir e vir e outros direitos, em um claro ataque às medidas de restrição e ao Supremo Tribunal Federal (STF), que tem garantido que governadores e prefeitos possam tomar decisões dentro da legalidade. Essas declarações, que mais uma vez ameaçam a democracia, provocam reações entre seus apoiadores e geram uma sensação de impunidade.
Enquanto o presidente da República joga com o medo e a insegurança política, a pandemia segue seu curso devastador. O Brasil já acumula 389.609 mortes, com a média móvel nos últimos sete dias acima de 2.500 mortes diárias. Abril se mostra como o mês mais mortal da pandemia até agora, com mais de 67 mil óbitos, um número alarmante que destaca a gravidade da crise sanitária. Além disso, a vacinação avança a passos lentos: apenas 13,65% da população recebeu a primeira dose, e 5,87% a segunda dose, o que coloca o Brasil atrás de outros países em termos de cobertura vacinal.
O cenário atual é de um governo que parece ignorar a realidade da pandemia e a urgência das medidas de contenção. Com mais de 2.900 mortes diárias e uma média de novos casos superior a 58 mil, o Brasil continua a enfrentar uma crise sanitária sem precedentes, enquanto as atitudes governamentais e a falta de coordenação eficaz tornam mais difícil a luta contra o vírus. O problema é claro: enquanto o país perde vidas, o governo parece mais focado em proteger sua base política do que em salvar vidas. E essa gestão, permeada por erros, contradições e incoerências, nos leva a um ponto sem retorno, onde a única certeza é a tragédia humanitária em curso.