A estratégia de marketing da Disney

É óbvio que a Disney emplacar uma princesa branca como negra é uma forma de utilizar o debate do racismo para aumentar a audiência.

Politizar o comércio tem sido a melhor maneira do capital aumentar os seus lucros nesses tempos limites de expansão. Por outro lado, as pessoas se incomodarem com Ariel negra é um certo desconhecimento de como mitos e folclores funcionam (para não dizer racismo).

Esses seres imaginários podem e devem ser atualizados conforme as mudanças culturais da sociedade, e em tempos de inclusão racial nos diferentes domínios, é natural que os personagens da cultura mudem suas características e se aproximem da nova aparência da sociedade.

E acima disso tudo, convenhamos, Halle Bailey é perfeita para o papel. Inclusive, achei melhor do que a Ariel original.

Com seu rosto fino, sua linda voz e sorriso de pérola, será uma sereia e tanto, e espero até que mantenham seus dreads e não inventem de alisar ou pintar de vermelho.

O filme foi baseado no tradicional conto “O príncipe Sapo” —  aquela história na qual o príncipe vira um sapo e o feitiço se quebra quando a princesa da o beijo, foi desenhado utilizando a tecnologia tradicional de animação, isso em 2009, no século XXI, tecnologia avançando rapidamente.

Os contos da Disney voltou a suas raízes, relembrando os filmes clássicos de princesas entre os principais: Aurora, Branca de Neve, Bela, Ariel, Rapunzel, Cinderela.

Foi uma jogada de marketing perfeita, a sacada do filme! Moana foi a primeira princesa negra da Disney, uma evolução para quebrar os estereótipos, esse é um ponto importante.

Ela não foi a primeira princesa que enaltecesse a diversidade – tempos atrás já era conhecido de muitos a Pocahontas (indígena), Esmeralda (cigana), a Jasmin (indiana), Mulan (oriental), mas Tiana foi a primeira que mostrou uma afrodescendente no papel principal, um jeito novo de mostrar que todos são iguais e não apenas os brancos tendem a ser princesas. Mas muitos outros traços mostram que Tiana é uma princesa diferente de todas as demais.

OBSERVAÇÃO IMPORTANTE: por mais que este filme possa ser visto como “de princesa”, é um filme que deve ser visto por todos, pois, foge à história tradicional. Vamos a ela! Aqui começa a viagem, a essa história magnifica.

E vou direto ao ponto: hoje vamos falar de REPRESENTATIVIDADE. A figura preta e feminina, enaltece. Esse filme é uma lição de vida para que a sociedade entenda melhor a retratação em uma película infantil.

A personagem Tiana é filha de uma costureira e um cozinheiro e moram em Nova Orleans, cidade do Estado norte-americano de Louisiana, conhecida pelo seu grande mix cultural, visto na música, na culinária e mesmo no Mardi Gras, (o carnaval deles). Mas está localizado no Sul dos EUA, região com uma longa história escravocrata. Percebem que foi usado a realidade de uma época triste para essa sociedade preta.

Um ponto que não se pode deixar de notar é o local que foi escolhido para a história, Nova Orleans foi um dos locais mais atingidos pelo Furacão Katrina, em 2005. O filme presta uma bela homenagem à cidade, levantando a moral e auto estima que fora abalada pelo cataclismo, um verdadeiro simbolismo.

A história passa-se, em 1926, na década de 20, uma época onde, tanto as mulheres, em geral, quanto os pretos de forma específica, ainda estavam lutando pelos seus direitos civis.

Desde pequena, Tiana mostra-se obstinada, com um pensamento bem progressista para a época (é só ver seu comportamento vs comportamento de sua amiga, Charlotte). Enquanto sua amiga sonha com um príncipe encantado, Tiana sonha em abrir o próprio negócio, essa vontade de empreender surpreende.

Uma mulher negra sonhando em empreender? Esse cenário é muito presente na realidade brasileira, mas infelizmente, mesmo na prestação de serviços, ainda estamos sujeitos a situações onde a cor da pele fala mais alto, aqui começa a desigualdade racial.

O filme por ser direcionado às crianças, não ilustra o tema de maneira tão evidente assim, mas é perceptível que Tiana passa por algumas dificuldades em sua caminhada, nas entrelinhas, mostra o preconceito racista. Os locatários chamam Tiana de inexperiente, mas veja o movimento que ele faz com as mãos? No ponto de vista crítico, a percepção, sutil dos produtores ao racismo, visto que eles desconfiavam de uma mulher, jovem e negra como empresária.

Mas Tiana não apenas sonhava, ela estava se preparando, se esforçando para que o seu sonho fosse possível de acontecer, pois, ela tinha uma visão a longo prazo, tendo a imaginação como seria de fato o seu negócio. 

A personagem principal sabia que seu sonho será realizado a base de muito trabalho e esforço, sem isso a dificuldade seria muito maio, na visão dela, não importa se fosse preciso se sacrificar aqueles momentos de lazer e de não fazer nada. Quantas mulheres não passam por isso também? Tiana não queria depender de ninguém para alcançar seus sonhos, mesmo que eles fossem motivo de chacota, ela sempre foi a guerreira.

Curioso ver como a história das princesas vem tendo mudanças notáveis ao longo dos últimos anos. Se antigamente elas sonhavam com um príncipe encantado e viveriam felizes para sempre, aqui o Príncipe Naveen é exatamente o contrário de Tiana! Um bom vivant, de família rica e que vive para curtir a vida, nota-se a visão de mundos de forma paralela, a realidade.

O caminho desses jovens se cruzam de maneira muito inesperada (Não contém spoilers, galera!), porém, a convivência entre os dois resulta no equilíbrio que todos buscamos em nossas vidas entre trabalho e diversão! Tiana não depende de ninguém para fazer o que precisa ser feito, uma jovem independente.

Agora volto a falar da representatividade, que tem como base central no enredo é importante notar que o filme foi lançado em pleno governo Barack Obama, um marco na história estadunidense, país que saiu de uma guerra racial para um presidente eleito em apenas 40 anos, percebe, o quanto mudou a história no mundo e principalmente na maior pontencia mundial.

Além disso, personagens como o crocodilo Louis e o Vaga-lume Ray homenageiam figuras negras da música norte-americana. E a Euroda, mãe de Tiana, é dublada por ninguém menos que OPRAH WINFREY, uma das pessoas (mulher, homem, branco, negro, não importa!) mais influentes do mundo! Além da trilha sonora ser basicamente composta por jazz e blues, de clara influência negra. Esse filme foi homenagem para todos os pretos do mundo.

Um ponto importantíssimo que a maioria dos pais, devem ficar atento no filme, é ter o olhar de como auto-estima da Tiana, personagem central. Nesse momento, ela não se deixa abalar pelas situações, pois, além de saber o que queria, mantinha valores que aprendeu com seus pais desde. Mesmo que possam surgir atalhos no caminho há um motivo para este atalho não ser o caminho original a ser trilhado, é preciso sempre tomar as decisões sensatas.

O filme, além da representatividade e poder feminino, traz valiosas lições sobre empreendedorismo e a capacidade de aquisição financeira. Mas hoje o assunto aqui abordado, está ligado em como hoje isso ainda é um grande problema, ou seja, 90 anos após a época do filme, em uma sociedade machista e racista.

E o imprescindível: agora as crianças pretas podem se ver representadas como uma princesa da Disney! Mas também como empreendedoras, como líderes, como professoras. Elas têm referência! Isso é muito importante no desenvolvimento das crianças.

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