Desigualdade na vacinação e o impacto global da pandemia

Análise sobre a vacinação contra a Covid-19 e suas implicações para a desigualdade mundial

Os Estados Unidos já conseguiram vacinar mais de 60 doses por 100 habitantes e estão iniciando a vacinação de pessoas a partir dos 16 anos. Aproximadamente 135 milhões de americanos já receberam pelo menos uma dose, o que representa mais de 40% da população do país. Se o ritmo de vacinação se mantiver, espera-se que até o final de 90 dias, cerca de 75% da população esteja imunizada, um marco que deve estabelecer imunidade comunitária.

Os resultados são evidentes. Nos últimos 14 dias, enquanto o Brasil registrou 42 mil mortes pela Covid-19, nos Estados Unidos o número foi de 11,7 mil, em um país cuja população é mais de 50% superior à brasileira. Porém, a comparação até aqui leva em consideração fatores como a cobertura vacinal, o volume diário de doses aplicadas e as diferenças demográficas. O que mais chama atenção, no entanto, é a desigualdade de acesso e distribuição das vacinas.

A desigualdade global fica clara ao analisar que as 210 milhões de doses aplicadas nos Estados Unidos representam cerca de 25% de todas as vacinas aplicadas no mundo. Na sequência, China e Índia, dois grandes produtores de vacinas, já vacinaram, respectivamente, 190 e 124 milhões de pessoas. Enquanto isso, a Europa vacinou 180 milhões, e a América do Sul, 60 milhões. Considerando a população, a Europa vacinou o dobro da América do Sul e mais de 12 vezes o número de vacinas aplicadas na África.

O mundo teve um ano para se preparar para a vacina, que foi desenvolvida em tempo recorde. A descoberta trouxe esperança de que a pandemia finalmente teria um “remédio” para ser combatida. No entanto, uma série de interesses econômicos impõem a patente como prioridade, impedindo a universalização do acesso à vacina. Tratados internacionais que garantem a propriedade intelectual dos laboratórios criam um cenário onde grandes corporações se apropriam dos lucros da produção e distribuição da vacina.

A vacina, que é fruto de um longo processo de desenvolvimento científico, não deve ser vista como uma mercadoria. Países como o Brasil participaram ativamente dos ensaios clínicos, contribuindo com cidadãos e cidadãs, com recursos públicos e com a produção de conhecimento relevante para o enfrentamento da pandemia. No entanto, as patentes e a lógica capitalista ainda predominam, criando uma barreira ao acesso universal.

Além disso, as ações de potências como os Estados Unidos também influenciam o cenário global. Ao restringir a exportação de matérias-primas essenciais para a produção de vacinas, o país afetou diretamente a Índia, que tem um papel central na produção de vacinas para os países em desenvolvimento. Essa medida evidencia o egoísmo de um sistema internacional que busca garantir a imunização de suas próprias populações, enquanto a pandemia continua a se espalhar pelo mundo.

A pandemia é, por sua própria natureza, um problema global, e controlar a Covid-19 em um único país ou região é uma falácia. As variantes do coronavírus têm mostrado sua capacidade de reinfectar populações, o que reforça a necessidade de uma ação coletiva e global. No entanto, o sistema capitalista e a concentração de riquezas dificultam a implementação de uma resposta eficaz, enquanto a pobreza e as desigualdades sociais seguem se expandindo.

Situação no Brasil e no Mundo

No Brasil, o número de mortes pela Covid-19 continua alarmante. Hoje, o país registrou 1.607 novas mortes, somando um total de 375.049 óbitos. A média móvel de mortes nos últimos 7 dias é de 2.860, enquanto o número de casos ativos é de 1,265 milhão. A vacinação, por sua vez, avança lentamente, com 26,655 milhões de pessoas vacinadas com a primeira dose, representando 12,59% da população, e 10,135 milhões recebendo a segunda dose, o que equivale a 4,79% da população.

No cenário mundial, o número de casos ultrapassa os 143 milhões, com mais de 3 milhões de mortes registradas. Os Estados Unidos são o país com o maior número de óbitos (581,5 mil), seguidos pelo Brasil (375 mil) e México (212,3 mil). Outros países como Índia, Reino Unido, Itália e Rússia também enfrentam números elevados de mortes e casos.

Esse panorama evidencia não só a desigualdade no acesso à vacinação, mas também a maneira como o sistema capitalista global e as decisões políticas influenciam o enfrentamento de crises sanitárias, exacerbando as desigualdades entre os países e dentro de cada nação.

O diário de bordo dessa pandemia segue, mas a necessidade de uma ação global coordenada para garantir o acesso universal às vacinas é mais urgente do que nunca. A solidariedade internacional e o enfrentamento dos interesses econômicos devem ser prioridades para combater não apenas o coronavírus, mas também as desigualdades estruturais que perpetuam o sofrimento de milhões.

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