A força da resistência e o cuidado na militância

Reflexão sobre a luta constante contra as injustiças e a importância do autocuidado na militância

Foucault dizia que não é preciso ser triste para ser militante, mesmo quando o que se combate é algo abominável. Porém, as coisas que combatemos são realmente abomináveis.

As pessoas morrem de fome, são estupradas, assassinadas por homofobia, vivem nas ruas, são assassinadas pela polícia ou internadas contra a sua vontade — e a lista é interminável. A militância surge como uma resposta a esse mundo abominável, exigindo de quem a pratica uma confrontação constante com as realidades mais duras. A cada passo na luta, vai-se aprendendo mais sobre o funcionamento de um sistema que oprime e marginaliza, e essa compreensão, muitas vezes, revela um panorama cruel.

A militância, então, não é apenas um ato de resistência contra as injustiças externas, mas também um enfrentamento das forças que nos oprime internamente. Para resistir ao sistema, à ideologia dominante e aos mecanismos de repressão, é preciso força. Porém, essa força não vem apenas do confronto direto, mas também do cuidado consigo mesmo e com os outros. A militância, portanto, exige atenção e fortaleza, como já dizia Gal Costa: “é preciso estar atenta e forte.”

Contudo, a resistência não é apenas uma ação contínua contra as forças externas. Ela também deve ser vista como uma prática de autocuidado, onde a saúde emocional e física de cada militante é considerada fundamental para a continuidade da luta. O cuidado é a base para sustentar as energias necessárias para seguir em frente, sem se deixar consumir pela exaustão ou pelo desgaste emocional.

Na militância, o apoio mútuo é essencial. Quando cuidamos uns dos outros, formamos uma rede de solidariedade que fortalece a resistência. O cuidado, nesse contexto, não é um sinal de fraqueza, mas sim uma estratégia para garantir que a luta seja sustentável, sem que os militantes se sintam sozinhos ou sobrecarregados. Cuidar dos outros é, assim, uma maneira de garantir que a resistência seja coletiva, e que todos possam seguir em frente.

Por fim, a militância não pode ser vista apenas como um ato de revolta. Ela também deve ser entendida como uma prática que humaniza, que preserva e nutre o que há de melhor em nós: a capacidade de sermos fortes e sensíveis ao mesmo tempo. A luta, portanto, deve ser sustentada pelo cuidado mútuo, pela solidariedade e pelo reconhecimento da importância de preservar a saúde mental e emocional dos militantes.

Assim, a resistência se torna mais poderosa quando é sustentada pelo cuidado. Quando nos cuidamos e cuidamos uns dos outros, somos mais fortes, mais capazes de resistir ao abominável e de transformar a sociedade para melhor.

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