O Brasil vive uma rotina infeliz de inação das autoridades e de políticas de saúde pública que contribuem para o agravamento da pandemia, enquanto a vacinação avança a passos lentos e o país se torna alvo de críticas internacionais.
Desde o final de 2020, o Brasil tem experimentado um ciclo infeliz que se repete mês após mês: a ascensão de novas variantes do vírus, o aumento contínuo de óbitos e a constante inação do governo. O cenário, que parecia já grave no final de novembro, se agravou ainda mais a partir de dezembro, quando variantes mais perigosas começaram a circular. Em janeiro, a média de mortes novamente ultrapassou a casa do milhar, e fevereiro e março trouxeram recordes diários de óbitos, fazendo com que o país chegasse a um novo patamar de calamidade.
O lado sombrio da inação governamental
Mas a tragédia não é apenas o reflexo do avanço do vírus. A inação das autoridades e as decisões equivocadas do Ministério da Saúde são um fator crucial para a crise sanitária. O país segue vacinando de maneira lenta, com a média diária de vacinas administradas abaixo de 800 mil doses. Até agora, apenas 12,17% da população foi imunizada, colocando o Brasil na 37ª posição em termos de vacinação proporcional. Entre os 36 países à nossa frente, muitos estão vacinando de 4 a 20 vezes mais rapidamente.
O país também enfrenta a dura realidade das aglomerações, especialmente nas ruas, onde a população se recusa a seguir as medidas de proteção, como o uso de máscaras. Isso ocorre em um contexto de autoritarismo seletivo, onde, paradoxalmente, as medidas sanitárias são frouxas enquanto outros tipos de repressão são frequentes. O discurso de ódio e as fake news também alimentam uma cultura de morte, que exacerba o individualismo e enfraquece o espírito de solidariedade.
A crise de São Paulo e as falhas do governo estadual
O cenário em São Paulo, o estado mais afetado pela pandemia, continua a se deteriorar. O recorde de mortes e de média móvel de óbitos se concretizou recentemente, e ainda assim, o governo de João Doria segue tomando decisões controversas, como a manutenção das aulas presenciais e a permissão para o funcionamento de igrejas, que foram classificadas como essenciais. Tais medidas estão em desacordo com a realidade sanitária, colocando ainda mais vidas em risco.
No entanto, o que chama mais atenção é a postura do secretário de Saúde, Jean Gorini Gabbardo, que, em meio a números explosivos de mortes, usou as redes sociais para criticar a falta de ação nacional, mas sem responsabilizar diretamente o governo estadual. Suas palavras refletem um descompasso entre as declarações de urgência e a falta de ação efetiva no nível estadual. A tentativa de culpar figuras como Lula e Bolsonaro, no contexto de um governo que segue apoiando um modelo de gestão negacionista, mostra um desprezo pelas responsabilidades locais e uma tentativa de desviar o foco da crise real que se desenrola em São Paulo.
O Brasil como pária internacional e a reação da OMS
Essa falta de coordenação e a negligência no controle da pandemia fizeram com que o Brasil se tornasse alvo de duras críticas internacionais. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que o país corre o risco de se tornar um “celeiro de novas variantes”, responsabilizando a condução irresponsável da crise sanitária. A OMS não poupou críticas à gestão da pandemia no Brasil, apontando que a postura do governo pode ter sérias repercussões para a saúde pública global.
O Brasil, ao vacinar a conta-gotas e adotar políticas públicas equivocadas, caminha para ser cada vez mais isolado no cenário internacional. Se nada for feito com urgência, o país poderá pagar um preço altíssimo pela falta de ação efetiva, com consequências para a saúde da população e para a imagem