Brasil, celeiro do mundo, mas de SARS-CoV-2.

Rotina infeliz vivemos: desde novembro, com o novo ciclo da pandemia; desde dezembro com a presença de variantes do vírus mais perigosas; desde janeiro com mortes e média móvel novamente na casa do milhar; desde fevereiro com média móvel acima de mil em série ininterrupta e agora em março com todos os nefastos recordes da pandemia sendo batidos dia após dia, sendo que hoje o de registro de óbitos e média móvel de mortes.

Nossa infeliz rotina tem o outro lado. O da inação da maioria das autoridades e da ação deletéria do Ministério da Saúde que tudo fez até agora para que tudo desse errado. A rotina também da vacinação a passo de cágado em terra firme, empacada na média diária de menos de 800 mil doses e que até agora só imunizou cerca de 12,17% da população. Somos o 37º país em vacinação proporcionalmente à população. Dos 36 países à nossa frente, 9 estão muito à frente, de 4 à 20 vezes mais vacinas inoculadas.

Rotina também do triste espetáculo das aglomerações, gente nas ruas sem máscara ou usando de forma incorreta, retrato de um país em que não se exerce a autoridade (autoritarismos se vê a toda hora) e de um povo atravessado pela guerra cultural do discurso de ódio, das fake news e das teorias obscurantistas, que tem servido para inflar uma espécie de cultura de morte, exacerbar o individualismo e fragilizar laços de solidariedade e senso do bem comum.

Quanto aos dados, ontem eu já alertava para as más notícias que viriam de São Paulo que dia após dia vê piorando os números da pandemia. Infelizmente, hoje se concretizou o pior cenário possível no estado, com recorde de registro de óbitos e de média móvel de mortes. Enquanto isso o governador segue mantendo aula presencial nas escolas e matem a decisão de permitir funcionamento das igrejas, classificando-se como atividade essencial.

Mas frente a números explosivos da pandemia, o que faz o secretário da saúde de Doria? Publica nas redes sócias a seguinte pérola que faço questão de reproduzir: “Hoje ao final do dia teremos o maior número de novos óbitos (recorde) do país de toda a pandemia. Precisamos urgente de ação nacional, mas estaremos falando de Lula e Bolsonaro”, afirmou Gabbardo. Ora, secretário, faça seu governador agir.

Impressionante, tentar arrastar Lula para a crise sanitária, logo o secretário que foi apoiador empolgado de Bolsonaro, “com direito à campanha com camiseta”, e que serviu ao genocida no Ministério da Saúde até a saída de Mandetta. Se diz arrependido mas segue ao lado de Doria, outro bolsonarista que ajudou a consolidar a votação de Bolsonaro no maior colégio eleitoral do país. Seguem esses senhores, se não bolsonaristas, até mesmo porque Doria é candidato em 2022, negacionistas na prática, como a questão das escolas e igrejas confirmam com sobra.

Vacinando pouco, sem coordenação nacional de ações de contenção da transmissão do vírus, o Brasil vira uma espécie de pária internacional da pandemia a ponto de a Organização Mundial da Saúde (OMS) repreender a nossa atuação no combate à doença, advertindo que podemos virar um “celeiro de novas variantes”. A OMS chegou a falar em irresponsabilidade no trato com a pandemia, referindo-se a como as coisas estão por aqui.

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