Tempos nebulosas, tempos de nebulização

Interessante observar os casos do Rio de Janeiro e Maranhão sobre a evolução da pandemia de Covid-19. O Rio já figurou por bastante tempo como o estado com a maior taxa de mortalidade e hoje está em quinto lugar entre os 27 estados. A cidade do Rio é a 100ª pior taxa de mortalidade e entre os municípios acima de 500 mil habitantes só perde para Manaus e Cuiabá.

O estado do Rio de Janeiro já foi decantado como a prova da imunidade de rebanho pois, com quase nenhuma medida de isolamento teve seus índices caindo, como o Brasil, até início de novembro. Só que voltando a subir até meados de janeiro desde ano, caindo novamente até início de março e voltando a subir desde então e atingindo recorde de média móvel de mortes (260 contra 210 na primeira onda). Bom lembrar que a taxa de mortalidade do Rio é 232/100M e a do Brasil é 171/100M.

Em vez de imunidade de rebanho, a tese que o Rio parece confirmar é de um terceira onda da pandemia que dá sinais em alguns estados em que, depois de ter índices recuados na segunda onda, tem um novo ciclo de crescimento de novos casos e mortes, provavelmente por medidas de isolamento suspensas precocemente e, sem dúvida, pela imunização insuficiente frente à escassez da vacina.

Maranhão é o estado que hoje tem o menor taxa de mortalidade de todo o Brasil, é de fato quase a metade da taxa nacional (55,27%, para ser exato) e bem distante da segunda pior que é da Bahia. Maranhão teve o seu pico / platô nos meses de junho e julho, experimentando uma queda dos índices que perdurou até a última semana do mês de janeiro deste ano, aparentando estar imune a segunda onda iniciada em meados de novembro em quase todo o país.

Os dados são bem alarmantes desde então, com subida consistente da média móvel de 5 mortes ocorrida em 26 de janeiro para 46 mortes em 14 de março, num pico que é 25% maior do que o atingido na primeira onda. O que tudo indica é que sem lockdown e outras medidas de restrição e cuidado e sem a vacinação em massa, a tendência é uma certa uniformização nacional da pandemia, como se as regiões menos atingidas fossem as próximas vítimas.

No meio disso tudo ainda temos a notícia do espalhamento do processo de nebulização de cloroquina como forma de (des) tratamento da Covid-19.

Além dos argumentos contra o tratamento em si, penso que é assombroso que profissionais da saúde se ponham a exercer sua profissão à margem do mais elementar regramento em pesquisa com seres humanos, pois é isso que fazem quando experimentam uma droga e um procedimento para administrá-la que não consta em nenhum manual ou protocolo aprovado.

O que fazem, agindo assim, além de um impressionante viés de desvio de comportamento prepotente e autocentrado, como brincando de deuses ou heróis, é crime em si, pois realizaram experiências com seres humanos ao arrepio das leis e normas que regem tal procedimento. Mas, ao porem em risco a vida de terceiros pelo comportamento ilegal, cometem tentativa de homicídio e homicídio nos casos em que pessoas morreram.

Sei que é difícil estabelecer razão de causa e efeito, mas o caso é que havia pessoas em estado grave em que se usou para tratá-las técnicas não autorizadas, o que coloca esses profissionais agindo de forma temerária e, pela formação que têm (a menos deveriam ter) sabiam que poderia ser mortal. É como se alguém enchesse de gente um protótipo de avião ainda sem licença para operar e o avião caísse. Para mim é assassinato.

Como agravante do que já é grave, há fármacos que já são feitos para serem inalados e não se trata de dar uma de Macgyver e improvisar. Quando se macera e dilui o comprimido para se nebulizar, promove-se a aspiração de partículas de tudo o que compõe a comprimido, que descrevo abaixo:

Difosfato de cloroquina – Excipiente (do que é feito): amido de milho, estearato de magnésio, talco 325 mesh (talco industrial usado na indústria de cosméticos), manitol (um diurético) ‘oral’ em pó. O sulfato de hidroxicloroquina – Excipiente: amido pré-gelatinizado, fosfato de cálcio dibásico di-hidratado, estearato de magnésio, hipromelose + macrogol + dióxido de titânio e o sulfato.

Além dos riscos já muito relatados do uso da cloroquina para Covid-19, essa forma de administração promove a inalação de partículas que podem depositar-se no pulmão e causar reações inflamatórias, pois não são medicamentos, mas apenas resíduos dos comprimidos macerados.

A médica de Manaus é ginecologista, não tem especialização em imunologia, bioquímica e nem faz parte de grupo de pesquisa. Noticia-se que os pacientes assinaram termo de livre consentimento, mas não é o caso, teriam que aceitar serem sujeitos de uma pesquisa, que nem existia. É trapaça.

O que fato essa médica é especializada é em bolsonarismo, como foi comprovado visitando-se o perfil do Facebook, que mesmo depois do ocorrido ostentava a propaganda “eu defendo o tratamento precoce”. Notícias veiculadas informam que um dos argumentos usados para convencer pacientes era de que se tratava de terapeutica defendida pelo Bolsonaro.

A que ponto chegamos.

NO BRASIL
Registro de mortes hoje: 3.774
Total de mortes: 365.954
Média móvel de mortes nos últimos 7 dias: 2.952
Casos confirmados em 24 horas: 80.529
Casos acumulados na pandemia: 13.758.093
Média móvel de novos casos nos últimos 7 dias: 67.396
Casos ativos: 1,301 milhão
Em ()89 dias de campanha, pessoas vacinadas: 25,394 milhões (11,99% da pop.) Em segunda dose, 70 dias: 8,460 milhões de imunizados (4% da pop.) () passei a considerar o dia 17 de janeiro como início da campanha, considerando a data oficial. Foram 112 doses dia 17/01, 1.109 dia 18/01 e 12.418 dia 19/01. Dia 20/01, mais de 90 mil doses.

NO MUNDO
Casos: 140,1 milhões
Óbitos: 3.004.000
1º – E U A: 579 mil
2º – Brasil: 365,2 mil
3º – México: 210,8 mil
4º – Índia: 174,3 mil
5º – Reino Unido: 127,2 mil
6º – Itália: 115,9 mil
7º – Rússia: 104,4 mil
Dados JHU (Johns Hopkins University).

É o que registra o diário de bordo.

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