Onde os fracos não têm vez.

O governo federal tem como política oficial (na prática) a imunidade de rebanho que seria resultado da infecção em massa e descontrolada da doença. O que está conseguindo mesmo é criar um imenso criadouro de mutações do vírus, produzindo versões capazes de reinfectar pessoas, mais agressivos e de mais fácil transmissão. Mais mortes, portanto.

O que está por trás disso é a ideia de que somente os fortes sobreviverão, ou invertendo, somos o país “onde os fracos não têm vez”(alusão ao genial filme dos irmãos Coen que ironicamente tem o título original “No Country for Old Men). Isso é eugenia e sim – genocídio. Não é extirpar um povo ou etnia, mas um grupo da sociedade que seria o dos mais fracos (velhos, doentes, deficientes e, por que não, os negros, os muito pobres … e assim vai).

É um espécie de genescídio (neologismo caracterizando a eliminação de certas características genéticas) – deliberado e planejado. Nesse caso, não é o comandante do campo de concentração que decide quem morre primeiro, mas a escolha é terceirizada para o vírus. É um delírio monstruoso de raiz fincada no nazismo. Mas os delirantes puseram concretamente a máquina de morte em movimento e o saldo até agora são as mais de 345 mil mortes (a quantas chegaremos?).

Estamos perdendo a guerra, ilustração de dois homens em guerra. Foto: Banco de imagen

Não tenho dúvida de que o discurso tão propalado de que somente morrem certos “vulneráveis” serve, por um lado para tranquilizar as maiorias que se julgavam protegidas e, por outro, alimenta o “pega pra capar” e o “cada um por si” que marca tão fortemente o padrão societário das nossas sociedades ocidentais na nova fase do capitalismo uberizado.

Capitalismo que vende a ilusão de somos todos patrões de nossas empresas individuais ou que não há mais empregados, pois todos são colaboradores. Também, semelhante a um vírus, milhões de startups nascem e morrem como uma “seleção natural” do darwinismo econômico em que o esforço de cada empreendedor que sucumbe se transforma numa nova espécie de trabalho morto que vai ser incorporado à riqueza de um tubarão do capitalismo. E quem pensou na semelhança disso com a gestão de algumas denominações religiosas, está na pista.

Mas tem mais, falsos profetas de diversas procedências completam o delírio que alimenta o negacionismo com ideias do tipo “quem tem fé o vírus não mata”. O seja, além dos fracos e doentes, morreriam os infiéis. Fecha-se o círculo do darwinismo social e econômico com o darwinismo religioso, afinal a explicação para o fato de quem tem fé e morreu é simples: não era fé de boa procedência. É a teologia da prosperidade que emparelha sucesso e riqueza com salvação levada às últimas consequências. E quem não bens ou tinha e perdeu? Adivinhem a resposta.

E o vírus segue… As notícias são de novas mutações pondo em risco inclusive a eficácia das vacinas em uma vacinação que se arrasta. A Câmara Federal se apressa em resolver o problema do andar de cima, aprovando vacina para empresários que poderão ter um programa de imunização particular. Tal lei passa a mensagem do salve-se quem puder e sabemos quem pode. Completamos 78 dias seguidos com média móvel acima de mil mortes e 23 dias acima de 2 mil, com dois dias acima de 3 mil.

NO BRASIL:
Registro de mortes hoje: 4.190
Total de mortes: 345.287
Média móvel de mortes nos últimos 7 dias: 2.818


Casos confirmados em 24 horas: 89.293
Casos acumulados na pandemia: 13.286.324
Média móvel de novos casos nos últimos 7 dias: 63.372


Casos ativos: 1,271 milhão
Em 79 dias de campanha, pessoas vacinadas: 22,201 milhões (10,48% da pop.)
Em segunda dose: 6,066 milhões de imunizados (3,01% da pop.)

NO MUNDO:

Casos: 134,5 milhões
Óbitos: 2.913.500
1º – E U A: 573,8 mil
2º – Brasil: 345,3 mil
3º – México: 205,6 mil
4º – Índia: 167,7 mil
5º – Reino Unido: 127 mil
6º – Itália: 112,9 mil
7º – Rússia: 101,8 mil
Dados JHU (Johns Hopkins University).

É o que registra o diário de bordo.

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