O escândalo político entre o Bolsonaro e Haddad

Um das falácias dos eleitores do Bolsonaro é de que o PT é um mal certo, enquanto o Bolsonaro é uma coisa incerta, e todos tinha a noção de que que não daria certo, a esperança, deixou de existir no momento da pandemia.

No entanto, a verdade para quem está adoecendo em função do crescimento do Bolsonaro é de que, se o PT é um mal certo e definido, Bolsonaro é um mal obscuro, oculto e profundo, cujo dano para o Brasil não é “incerto”, mas imensurável.

A representação de Bolsonaro se assemelha ao catastrófico incêndio do Museu Nacional. Seu rastro de destruição não se detém à riqueza material, mas atinge a herança científica, cultural, histórica e humana da sociedade.

O fenômeno no qual este político se assenta é o da inversão entre o Bem e o Mal, entre a Verdade e a Mentira. Ele não oculta o mal, como eventualmente faz o PT quando nega a corrupção, mas transforma o mal em bem quando insiste abertamente no mal como se fosse bem. O PT não transformou o mandamento “não roubarás” em “roubarás”. O crime cometido manteve seu estatuto. Já Bolsonaro transforma o “não matarás” em “matarás”, o “não discriminarás” em “discriminarás”, o “não censurarás” em “censurarás”.

E o método com o qual executa esse empreendimento é traduzindo o assassinato, a discriminação e a censura como se fossem outras coisas; como quando chama a censura nas escolas de “escola sem partido”, quando chama a homofobia de “combate à ideologia de gênero” e quando chama o assassinato de “direito do cidadão portar sua arma e se defender”.

Bolsonaro, por transgredir os parâmetros entre o certo e o errado, é do ponto de vista da filosofia moral aquilo que Hannah Arendt chamou de Mal Infinito (Responsabilidade e Julgamento, p.256). Por perder as próprias referências e linhas divisórias entre o certo e errado, o próprio pensamento se fragiliza e a culpa desaparece.

O Mal, assim, perde seus limites e se propaga como um “fungo sobre a superfície”, pois não é mais visto como Mal. Ao perder seu estatuto, o Mal apresenta a horripilante forma da Banalidade do Mal, um fenômeno cujos contornos foi visto pela primeira vez apenas no nazismo.

Essas reflexões importantes para entendermos que não se trata mais apenas de uma questão política. Não são dois projetos em jogo. Nas eleições de 2018, Haddad é um projeto errado. Já Bolsonaro foi o não-projeto, é a transgressão pura e violenta de qualquer forma de Bem.

No segundo turno eleitoral teve sim responsabilidade de preservar um mínimo da capacidade de pensar e agir com clareza. Haddad é absolutamente contrariável. Já Bolsonaro representou o “skandalon”, cuja palavra em hebraico é “mikhshol”, e significa “obstáculo”, que é aquilo contra o qual o pensamento e a ação já não podem mais se opor. #elenão #haddadsim

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