Solilóquio

Catatônico, belo dia para pensar em si
A lobotomia concebida pelo cotidiano
Cega-me e faz-me esquecer do que antes construí
Maldito anfêmero que me diminui como humano

Perco a noção de indivíduo,
Exime-se de mim a personalidade
Acabo seguindo o fluxo ubíquo
Da categórica e jactante sociedade

Fleuma fulcral para minha sobrevivência
É somente a epifania do sepulcro da existência
Salvando minha mente pela lúgubre condolência

Líquida? Concreta! Firmada conforme outros ditames!
O neo-paradigma é sabidamente infame
Sequestrem-me desse mal! Não quero sofrer determinismo
Aproveito a elucidação para atingir um maior epicurismo

Precisando deter esses males lancinantes
Que vituperam minha alma soluçante
Perpetuo que sairei da condição pré-imposta de vivência
Para impor apenas o meu meio de magniloquência


Tamanho pedantismo para encarar a sociedade
E ocorre a admoestação do id sobre o superego
Amor, forma lasciva de carência e saciedade
Rodeia o pensamento e o torna labrego

Do que vale tanto compreender se não há a quem dar a benesse?
Oh! Valente coração, aguente a escassez de afago
O esmero do carinho tarda mas o orgulhece.
E, no fim, livrá-lo-á do murmúrio antropófago

Talvez, a sociedade é o que é por sentir sua penúria
Talvez, eu tenha me imposto por perceber o mesmo
Pouco sentido há sem sua presença. Só resta lamúria
Não há escopo, nem decisão, apenas o vago e ambíguo esmo

Está decidido, a sociedade é patológica, é coitada
Sua concretude esteia-se no constante desapego, sem pudor
Para separar-me dela, basta distinguir minha jornada
Apenas fazendo uso do bom e velho Amor.

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