Arco reflexo

“Todo conhecimento torna-se, devido à necessária vinculação do meio ao indivíduo que pertence ao próprio meio, um autoconhecimento. Essa interação faz-se cogente pela gênese unívoca entre os muitos integrantes do mundo da vida, sem olvidar que o homem é um desses integrantes […] Ocorre, deste modo, um acoplamento estrutural entre o sistema nervoso do observador e o meio, proporcionando, assim, uma mútua transformação/adaptação. O ser é modificado pelo meio ao qual o próprio ser pertence e modifica.”
Trindade – 2007.

A análise epistemológica do ser humano a partir de sua concepção existencial suscita a vertente racionalista do relativismo subjetivo. A repercussão de vida de um sujeito não é a mesma entre todos os indivíduos e pode-se inferi-la a partir de uma simples análise fisiológica.

O sistema límbico, num ato reflexo semelhante ao polissináptico de defesa de um corpúsculo de Merkel, – porém, obviamente envolvendo bilhões de neurônios numa resposta mais complexa em miríade – promoverá uma refutação reflexa de âmbito moral dos indivíduos às ações daquele sujeito.

Essas respostas, por suas vezes, variam conforme as predominâncias de agressividade ou de inibição do sistema límbico de cada um; essa predominância, contudo, varia conforme a interação da genética do SNC com a influência concebida pelo meio, através dos elementos sensoriais orgânicos, na manutenção “programadora” do indivíduo.

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Imagem ilustrando o Sistema Nervoso Central e o Sistema Nervoso Periférico

O “environment” estaria diretamente relacionado às formulações neurológicas de moral e ética, a rede do sistema nervoso que acarreta um impulso consciente a uma percepção de fala ou de ação de um sujeito externo, promovendo uma reação de base distinta a cada diante do atuante.

Torna-se claro como há uma relatividade inerente, como cada pessoa pode se plastificar diferentemente aos fatos e construir uma base ética própria. Há apenas uma vereda da sociedade na qual os indivíduos estão imbuídos que impele essas programações a se aproximarem, mas sempre com traços próprios, intrínsecos e inexoráveis.

Dessa forma, as ações daquele sujeito desencadearão um reflexo diferente em cada pessoa ao seu redor e sua existência estará a mercê das exclusivas programações límbicas desses seres.

Não há verdade unívoca, apenas uma imensa relatividade. Diante disso, como preexistir um preconceito? Como permitir a concepção de intransigência? Não há elementos de sabedoria em qualquer uma dessas atitudes. Não há lógica em acreditar apenas no que se pensa.

No extremo do ceticismo da metafísica, não há filosofia que promova uma verdade cogente capaz de explicar o mesmo a todos. Há apenas uma busca pela sobrevivência e pela garantia de que outros terão uma concepção próxima a nossa para não nos sepultarmos no isolamento reflexivo, na reação de aversão julgadora e atormentadora.

“O diabo são os outros”? O diabo somos nós com nossos anseios inexequíveis de que as pessoas devem pensar igualmente. O fato dos programas do sistema nervoso estarem transientes conforme os ditâmes genéticos, sensoriais e mesológicos, combinando-se infinitamente, leva a uma quantidade incomensurável de raciocínios e de respostas.

São 80 bilhões de neurônios que nos leva a um paradoxo existencial, uma necessidade de querer unicidade que confronta a nossa própria constituição de total variabilidade.

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