A Ética Médica e o Conflito com o Fascismo: Reflexões Necessárias

Em um momento de crescente polarização política, é crucial refletir sobre o papel da ética médica e seu conflito com discursos e práticas que desrespeitam a dignidade humana.

A ética médica, que deve ser pautada pela promoção da saúde e dignidade humana, encontra um princípio fundamental em seu código de conduta. Os artigos 23 e 25 do Código de Ética Médica deixam claro que é inaceitável para um médico tratar qualquer ser humano com desrespeito ou discriminação, e que é sua obrigação denunciar práticas de tortura ou crueldade. Este código não só reflete a responsabilidade do médico como profissional de saúde, mas também como um defensor dos direitos humanos.

Em tempos de crescente fascismo, em que certas figuras públicas incitam ódio, discriminação e violência, surge a pergunta: como pode um médico se alinhar com ideologias que claramente violam os princípios básicos de respeito à dignidade humana? O apoio a líderes que propagam discursos de ódio, defendem a tortura e louvam figuras como Brilhante Ustra, um torturador do regime militar brasileiro, é incompatível com a ética que a medicina preconiza. A história da medicina, que se orgulha de sua origem humanitária, deve se manter firme na defesa de todos os indivíduos, especialmente os mais vulneráveis.

A medicina tem raízes profundas na filosofia e na mitologia grega, associada a figuras como Asclépio e Quíron, que simbolizam o cuidado, a compaixão e a empatia. Quíron, o centauro imortal, que, após ser ferido com uma flecha envenenada, tornou-se capaz de compreender e aliviar a dor humana, é um exemplo clássico de como a medicina não pode ser dissociada da empatia e do compromisso com o bem-estar dos outros. Sua própria dor o capacitou a ser mais atento e solidário, e a origem da medicina carrega em si a lição de que o sofrimento deve ser aliviado, não propagado.

A associação da medicina com qualquer ideologia que minimize o sofrimento dos marginalizados ou que legitime a opressão é inconcebível. Não é apenas uma questão de política, mas de princípios morais e humanos. Quando médicos se aliam a discursos de intolerância ou apoiam práticas cruéis, eles traem o próprio espírito da profissão. A medicina, como campo de cuidado e compaixão, não deve ter qualquer conivência com o sofrimento causado por regimes opressores ou por qualquer forma de discriminação.

Denunciar esse tipo de alinhamento ideológico é uma obrigação ética. A medicina não pode ser usada para justificar ou dar suporte a propostas que vão contra os valores de humanidade, empatia e cuidado. O médico tem o dever de manter sua prática em consonância com os princípios que guiam sua profissão, que são, antes de tudo, a promoção do bem-estar e da dignidade humana.

Portanto, é imperativo não apenas denunciar, mas também repudiar publicamente qualquer movimento ou proposta política que incentive a violência, a discriminação e a tortura. A medicina é uma profissão de cura e compaixão, e nada pode ou deve se sobrepor a esses valores fundamentais. O compromisso com o bem-estar humano exige que todo médico atue, não apenas dentro dos limites de sua profissão, mas também em sua vida pública e política, defendendo a dignidade e os direitos de todos, sem exceção.

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