Médicos a favor do fascismo? Casos esporádicos. No código de ética médica diz que é vetado ao médico:
“Art. 23. Tratar o ser humano sem civilidade ou consideração, desrespeitar sua dignidade ou discriminá-lo de qualquer forma ou sob qualquer pretexto.
Art. 25. Deixar de denunciar prática de tortura ou de procedimentos degradantes, desumanos ou cruéis, praticá-las, bem como ser conivente com quem as realize ou fornecer meios, instrumentos.”
Portanto, por princípio é eticamente vetado à profissão que muitos escolhem para exercer na vida, apoiar certo candidato inominável, que desrespeita as minorias, que propaga a discriminação, que incita o ódio e o armamento, e que faz elogio a Brilhante Ustra, o torturador sádico e perverso que torturou crianças inocentes em seu delírio de combater o comunismo.
A medicina é a atividade laboral humanitária por excelência. Sua origem mitológica vem de Asclépio, discípulo de Quíron, o centauro imortal que abdicou de sua imortalidade a Zeus para que os homens obtivessem o fogo conquistado por Prometeu.
A chave do sacrifício de Quíron, no entanto, foi a flecha envenenada que recebeu na coxa por Heráclito, a qual lhe causava grandes dores. Essa patologia, embora incapacitasse Quíron para andar, o capacitou para ser empático (em + pathos) aos homens, pois compartilhava da dor que eles sentiam.
Essa condição o distinguiu radicalmente dos outros imortais. Foi a dor compartilhada de Quíron que o fez ter empatia pelos mortais e, então, estar apto a fazer o bem.
Após o sacrifício divino que realizou, Zeus o homenageou criando a constelação de Sagitário, com seu arco reluzente, para que os deuses se lembrassem da bondade e da necessidade de ter empatia para que o bem ocorresse.
É impossível associar tais princípios com o mal insensível e debochado que muitos reproduzem hoje tão cegos quanto os centauros que debocharam do sacrifício de Quíron.
A medicina é o cuidado, ela é boa, e não coaduna com a minimização do sofrimento dos fracos e estigmatizados. Por isso, não me resta opção ética senão denunciar e ojerizar qualquer proposta que vá nessa direção.