O coronavírus trouxe à tona questões profundamente enraizadas no nosso modo de vida, expondo as vulnerabilidades de uma sociedade que, até então, tentava mascarar suas falhas com a correria do sucesso e a busca incessante pela produtividade.
Antes da pandemia, vivíamos em um ritmo frenético, onde o sucesso era a medida de nossa validade. A sociedade nos ensinava que o valor de uma pessoa estava diretamente ligado à sua capacidade de produzir, realizar e alcançar conquistas. E, ao mesmo tempo, alimentava a culpa do fracasso, sugerindo que quem não alcançava o sucesso era responsável por sua própria queda. Esse ciclo estava imerso em um consumismo exacerbado, alimentado pela ideia de que possuíamos a chave para preencher o vazio existencial com bens materiais, enquanto as redes sociais se tornavam espaços onde a superficialidade das relações se misturava ao narcísico desejo de aceitação.

A chegada do SARS-CoV-2 e a consequente pandemia, no entanto, mudaram radicalmente a dinâmica dessa busca incessante. Não havia mais a mesma possibilidade de esconder as imperfeições ou as tensões internas sob a capa de produtividade ou sucesso. O isolamento social forçado pela pandemia expôs as fragilidades de uma sociedade que, antes tão imersa em seus próprios ritmos frenéticos, teve que confrontar a dura realidade do vazio e da solidão.
E um dos sintomas mais evidentes desse novo momento, talvez o mais silencioso e, ao mesmo tempo, impactante, é o cansaço. O esgotamento físico e emocional tornou-se uma constante. Não é apenas o cansaço pela falta de lazer ou pelo excesso de trabalho, mas o cansaço existencial, uma sensação de exaustão profunda, que parece afetar todos os aspectos da vida, das relações pessoais à profissional. A pandemia potencializou o desgaste de um sistema que já estava, de certa forma, vulnerável, fazendo com que muitos se sentissem incapazes de seguir em frente, não porque não quisessem, mas porque simplesmente não tinham mais energia.
O que antes podia ser disfarçado com o movimento incessante da vida cotidiana agora se tornou impossível de ignorar. A saúde mental, que já enfrentava desafios antes da pandemia, agora se tornou um tema central e urgente. As pressões sociais, econômicas e emocionais se multiplicaram, resultando em um aumento significativo de transtornos como ansiedade, depressão e síndrome de burnout.
A pandemia não apenas acelerou a visibilidade dessas questões, mas também forçou uma reflexão mais profunda sobre as estruturas que sustentam nosso estilo de vida. A busca incessante pela produtividade e pelo sucesso como formas de validação pessoal se mostrou, mais do que nunca, insustentável. E, enquanto muitos tentam se adaptar a uma realidade que parece estar em constante mudança, a sensação de cansaço permanece, refletindo um sistema que não sabe mais como lidar com o tempo e com as necessidades humanas.
A pandemia, portanto, não é apenas uma crise de saúde pública, mas uma crise existencial. Ela expôs as falhas de um modelo que nos ensina a correr, a produzir, a consumir, mas que, no fundo, não nos prepara para o vazio, para a incerteza ou para o cansaço emocional. O desafio agora é encontrar formas de lidar com esse esgotamento, seja através do cuidado com a saúde mental, seja por meio de uma transformação mais profunda nos valores que norteiam nossa sociedade.