Com a pandemia em sua fase mais crítica, o sistema de saúde paulista enfrenta um colapso, com filas para leitos e novos recordes de mortes.

Leitos do Hospital de Campanha Pedro Dell’Antonia, que atende pacientes com a Covid-19 no município de Santo André, na Grande SP, em março de 2021. — Foto: SUAMY BEYDOUN/AGIF – AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO
No dia 26 de março de 2021, o estado de São Paulo bateu um novo recorde triste ao registrar 1.193 novas mortes por Covid-19 em um único dia. Esse número alarmante faz com que o total de mortes no estado ultrapasse a marca de 70 mil, chegando a 70.696 vítimas fatais. O aumento diário foi abrupto, refletindo um cenário de caos no sistema de saúde, com 1.500 pacientes aguardando por um leito de UTI, conforme dados do Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde (Conass). A média móvel de mortes no estado agora é de 557 por dia, uma tendência crescente que se mantém por 25 dias consecutivos.
O aumento no número de óbitos é ainda mais impactante considerando que, três dias antes, o estado havia registrado pela primeira vez mais de mil mortes em um dia (1.021). Esse incremento expressivo no total de óbitos não necessariamente representa mortes ocorridas de um dia para o outro, mas sim registros de falecimentos computados no sistema. A situação em São Paulo é preocupante, e o número de mortes sugere um avanço descontrolado da pandemia, especialmente no momento em que o estado e o Rio de Janeiro iniciam medidas de isolamento parcial, como o “lockferiado”.
Fila de espera por leitos e a tragédia da falta de estrutura
A situação crítica nas UTIs é ainda mais dramática em São Paulo, com a fila de espera por leitos intensivos em UTI ultrapassando 1.500 pessoas. Apenas na capital paulista, quatro pessoas morreram enquanto aguardavam por atendimento. Esse colapso nas unidades de terapia intensiva é um reflexo da insuficiência de leitos e da pressão crescente sobre o sistema de saúde, que enfrenta dificuldades para dar conta de um número recorde de novos casos de Covid-19.
Com mais de 35 mil novos casos de infecção apenas em São Paulo e Minas Gerais, as projeções para o Brasil como um todo são assustadoras. O Instituto de Métricas e Avaliações em Saúde da Universidade de Washington estima que, num cenário conservador, o país poderá registrar até 400 mil mortes até o final de maio. As consequências desse avanço acelerado da pandemia são incalculáveis, e o Brasil se aproxima de um número recorde de 100 mil novos casos confirmados por dia, em um cenário de total falta de controle sobre a disseminação do coronavírus.
A resposta política e as ineficácias do governo federal
O aumento explosivo dos números de casos e mortes é ainda mais grave diante da inação do governo federal. No momento em que o Brasil atravessa um dos piores momentos da pandemia, a falta de medidas eficazes e de uma estratégia de controle adequado se torna ainda mais evidente. Em meio ao caos, enquanto a população se vê desamparada e o sistema de saúde à beira do colapso, a gestão do governo federal se mostra desconectada da gravidade da situação, com medidas paliativas como os “lockferiados”, que podem trazer algum alívio no médio prazo, mas que são insuficientes para enfrentar a crise de saúde pública de forma eficaz.

O cenário descrito é um reflexo claro da necessidade urgente de medidas mais rígidas e coordenadas, não apenas a nível estadual, mas também federal. Não há mais espaço para atitudes hesitantes ou falácias políticas. O Brasil precisa de ações imediatas para salvar vidas e conter o avanço desenfreado da pandemia, que já deixa um rastro devastador de mortes e sofrimento.
O quadro atual exige uma ação enérgica e coordenada. O Brasil está diante de um verdadeiro colapso, e as medidas até agora adotadas parecem insuficientes frente à magnitude da crise. A tragédia de São Paulo é apenas um reflexo do desastre que se aproxima em todo o território nacional. O Brasil não pode mais se permitir esperar enquanto os números de mortes aumentam a cada dia. A luta contra a pandemia exige decisões corajosas, bem como uma mudança no rumo das políticas públicas. O governo federal, em particular, precisa agir com urgência, deixando de lado as discussões políticas e focando na única questão que importa agora: salvar vidas.