A necropolítica de Bolsonaro: Um empreendimento coletivo de morte

Análise sobre o impacto de Jair Bolsonaro na pandemia e as responsabilidades compartilhadas pelos que o apoiaram.

As decisões políticas de Jair Bolsonaro durante a pandemia de covid-19 transformaram o Brasil em um dos epicentros da crise sanitária global. A atitude do presidente em minimizar a gravidade do vírus, incentivar tratamentos sem comprovação científica e tratar com desdém as recomendações de isolamento social e uso de máscara foram, sem dúvida, determinantes para o avanço incontrolável da doença. Entretanto, a culpa não deve recair sobre ele sozinho. A morte e a destruição causadas por sua gestão são um reflexo de um esforço coletivo que envolve uma rede de aliados, seguidores e interesses corporativos que ajudaram a propagar sua necropolítica.

Em um cenário onde, no pior momento da pandemia, o Brasil registrava 2.929 mortes em um único dia, não era apenas Bolsonaro que alimentava a máquina de morte. Ao contrário, ele foi apoiado por uma gama de pessoas e instituições que, por motivos diversos, escolheram ignorar o sofrimento coletivo e dar sustentação a um projeto de governo que parecia mais focado em preservar privilégios e garantir a manutenção do status quo do que proteger a vida.

Esses apoiadores, muitas vezes camuflados sob fachadas de autoridade e poder, estavam presentes nas mais variadas esferas da sociedade. Desde os gabinetes do Congresso Nacional, onde a base bolsonarista consolidava seu poder, até os corredores de hospitais, onde os interesses do mercado e do agronegócio se sobrepunham ao bem-estar social. O Brasil estava, assim, imerso em uma rede de conivência, em que a ideia de que a vida de uma parte da população não importava ficou implícita em ações e discursos.

A relação entre Bolsonaro e seus aliados é complexa e vai além de uma simples manipulação. Muitos viram em seu governo uma oportunidade de enriquecimento, um espaço onde a violação dos direitos humanos e a exploração das massas poderiam ser realizadas sem grandes questionamentos. A falta de ação efetiva para controlar o avanço do vírus foi, portanto, também uma escolha política, onde interesses econômicos se sobrepuseram ao compromisso com a vida.

O fenômeno observado na ascensão de Bolsonaro é similar ao que Hannah Arendt descreveu em suas análises sobre regimes autoritários: quando o movimento autoritário entra em colapso, seus seguidores tendem a abandonar o barco, alegando que foram enganados. No caso brasileiro, no entanto, será fundamental lembrar dos que escolheram se omitir ou, ainda pior, colaborar com a disseminação de políticas genocidas, justificando suas ações com base em cálculos políticos ou interesses pessoais.

A recuperação histórica dos responsáveis por essa tragédia será longa e árdua. Mesmo que, no futuro, muitos venham a negar sua participação direta na morte de milhares de brasileiros, a responsabilidade de cada um que optou por não agir será imortalizada. O Brasil, assim como outros países, carregará as cicatrizes desse período sombrio por muitos anos, e aqueles que ajudaram a forjar esse massacre devem ser lembrados por sua cumplicidade.

O trabalho de conscientizar a população sobre as falácias espalhadas pelo governo de Bolsonaro, e reconhecer a responsabilidade coletiva, é mais urgente do que nunca. Apenas assim, quando a História for escrita, poderemos afirmar que houve um esforço para evitar que o Brasil se tornasse um cemitério a céu aberto.

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