A luta contra o machismo: entre a coragem e a hipocrisia

O combate ao machismo não se dá apenas em palavras, mas em ações corajosas que rompem com a falsa moralidade imposta pela sociedade.

Não sejamos ingênuos nem tenhamos piedade com quem nunca nos poupou. O machismo, como estrutura enraizada na sociedade, não pode ser confrontado com concessões ou atitudes brandas. Não se combate a opressão com afagos na cabeça, tampouco com conversas baixas que buscam a suavização do discurso. Essa postura apenas mantém intactos os pilares que sustentam a violência de gênero e perpetuam a desigualdade. O silêncio e a aceitação tácita de práticas machistas tornam-se cúmplices, pois consentem com a manutenção de um sistema de dominação.

É necessário, então, coragem. Não é suficiente marchar em fila indiana e seguir passivamente os ditames de uma sociedade que silencia as vozes dissonantes. Combater o machismo requer um posicionamento firme, capaz de resistir aos valores cristalizados e às convenções impostas. Não podemos mais ceder à hipocrisia de um mundo que exige conformidade, ou de uma democracia que só existe para uma parcela da população privilegiada.

Este enfrentamento não é fácil e exige mais do que uma postura de fachada. É preciso peito. Esteja ele nu ou pintado, a coragem de se expor sem medo de ser visto e julgado traduz-se na necessidade de abandonar os panos da vergonha e da moralidade hipócrita. Não há como buscar a paz sem confrontar o medo que paralisa e o moralismo que cega. Não há democracia quando a metade da população, aquela que deveria ser plural e representada por todas as vozes, é invisibilizada ou reduzida a um estigma imposto pelas convenções de classe, raça e gênero.

A luta pelo fim do machismo exige não apenas a reflexão sobre as atitudes individuais, mas também a transformação da estrutura que sustenta a opressão. É muito fácil criar pecados e condenar os outros com base em interpretações distorcidas da moralidade e do comportamento. Difícil, porém, é dispor-se a enxergar o outro para além dos estigmas impostos. Exige coragem para transcender os preconceitos e as noções de valor que nos foram passadas desde a infância.

A verdadeira mudança começa com a disposição de ir além da superfície, de abandonar os julgamentos fáceis e de adotar a alteridade, a capacidade de ver o outro em sua humanidade plena. Só assim poderemos combater o machismo de maneira eficaz e transformar a sociedade em um espaço mais justo e democrático para todos.

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