O direito a vida e a morte

Enceto à discussão sobre a cultura da “vida a qualquer custo” propagada – é de onde posso falar com propriedade – no Ocidente.

O fim da vida e seus meios
Ilustração. Banco de imagens Bixabay

O apego à vida a despeito de sua qualidade definitivamente é semiológico de um contexto. Nunca antes se viveu com tanta futurologia na Terra. Contradizendo até mesmo aos religiosos, que por milênios abstiveram-se de desejos e projetos tendo em vista a vida após a morte, o que vemos na humanidade hoje é uma abstenção de desejos e, muitas vezes, da qualidade de vida presente em função de uma qualidade terrena vindoura.

Assim, justifica-se ideologicamente os trabalhos mal remunerados que prometem “ascensão”, as jornadas torturantes de estudantes e trabalhadores da periferia que exercem suas atividades no centro da cidade e gastam 3 horas ao longo do trajeto, as postergações da gravidez nas mulheres que querem ser mães mas que, atualmente, vislumbram-se assim apenas “na casa dos 40”, etc.

Muito embora o esforço individual seja natural tendo em vista desejos quaisquer, o que vemos hoje é um abandono absoluto da vida e de sua situação no presente em função de uma esperança, de uma expectativa de que um dia o “estado de felicidade” estará confluente com o estado do “ser em si”; e assim estamos numa eterna transição em que o bem está apenas no devir.

Somente uma sociedade sob esta óptica pode achar razoáveis as distanásias copiosamente executadas. E as discussões em torno de eutanásia, distanásia, etc têm sido tão vazias que certamente alguém vai ler e falar que este é um assunto superado.

Entenda quais são as diferenças entre eutanásia, distanásia e ortotanásia  no ordenamento jurídico brasileiro
ilustração. Banco de imagens Pixabay

Caros, não se trata de evitar que uma pessoa vegetando continue sendo mantida por aparelhos, nem apenas de “salvar” uma vida curável, trata-se de manter viva uma pessoa que, apesar de poder, devido às sequelas acharia melhor não. Diz-se que a vida deve ser mantida e prolongada porque assim a pessoa terá mais oportunidades de ser feliz. Será?

Uma frase perene diz: “curar às vezes, aliviar frequentemente, confortar sempre”. Será que fazer uma pessoa passar seus prováveis últimos dias num hospital, independente das condições em que eles estão, é irrefragavelmente uma atitude reconfortante? Pensemos.

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