Reflexões sobre o jogo perverso de responsabilidades e violência simbólica
O comportamento de Bolsonaro, no contexto da extrema-direita global, pode ser comparado ao de um bufão de colégio, alguém que se especializa em fazer do sofrimento alheio um espetáculo. Ao adotar essa postura, ele se insere numa linha de cinismo que não só nega responsabilidades, mas também transfere-as para os próprios oprimidos. Assim como o bullying em uma escola, onde a vítima é rebaixada e ridicularizada, o método de Bolsonaro gira em torno da lógica de inverter os papéis: o agressor se faz de vítima, e a culpa pela opressão é colocada na própria vítima.
Essa estratégia de “culpar a vítima” e se fazer de “vítima da vítima” tem uma raiz profunda na história de movimentos de extrema-direita. Zizek, ao comentar sobre o nazismo, destaca que um dos métodos mais cruéis desses regimes é o de abaixar as calças de alguém e depois zombar dessa pessoa por estar exposta, sem defesa. Este comportamento, embora grotesco, encapsula a dinâmica de poder e humilhação que caracteriza os sistemas autoritários, onde a vítima não só sofre fisicamente, mas é também privada de sua dignidade por meio da zombaria pública.
Bolsonaro, de forma similar, segue essa lógica ao desviar a culpa das ações destrutivas para os próprios alvos de sua violência política. Um exemplo claro disso é sua declaração de que as queimadas na Amazônia seriam responsabilidade dos próprios indígenas. Essa acusação não apenas ignora os verdadeiros responsáveis pela destruição ambiental, como também coloca em risco as comunidades que já enfrentam as piores consequências dessa devastação, legitimando a violência contra eles.
O discurso de Bolsonaro é, portanto, um espetáculo de cinismo, onde a realidade é distorcida e as vítimas são ridicularizadas em nome de um jogo político perverso. A fala sobre a “cristofobia” em um país que é o maior responsável por homicídios de pessoas LGBT no mundo é outra evidência dessa estratégia, que mistura negação, inversão de papéis e um cinismo absoluto. Nesse cenário, a violência contra grupos marginalizados é justificada como uma “legítima defesa”, quando na verdade é um reflexo de um sistema que busca deslegitimar e exterminar essas populações.
Essa estratégia perversa de Bolsonaro tem três dimensões particularmente nefastas. Primeiramente, ela serve para reforçar seu apoio entre os eleitores conservadores, negacionistas e fundamentalistas, utilizando questões como a destruição ambiental e a morte de brasileiros como uma plataforma eleitoral. Em segundo lugar, ela justifica a violência contra grupos marginalizados, transformando o genocídio em uma narrativa de defesa legítima. E, por fim, ela faz escárnio dessas mesmas vítimas, tratando suas dores e sofrimentos como mera parte do espetáculo de poder.
O discurso de Bolsonaro, então, não é apenas um ataque direto aos grupos oprimidos, mas também uma forma de brutalismo simbólico, um espetáculo que reflete a sociedade em que vivemos. Ele não se limita a agir com violência física, mas utiliza a linguagem e a retórica para humilhar, deslegitimar e perpetuar a opressão. Nesse sentido, seu comportamento pode ser entendido como um reflexo de um “brutalismo bufão”, uma forma de operar no mundo onde a dor alheia é transformada em uma piada cruel.