A militância, o cuidado e a resistência na luta contra a opressão

Reflexões sobre a coragem e a responsabilidade na luta por justiça social

Foucault, ao afirmar que não é necessário ser triste para ser militante, nos lembra de uma importante lição: a luta pela justiça não precisa ser uma jornada de desespero, embora o que combatemos seja, de fato, abominável. As realidades cruéis que nos cercam – como a fome, a violência policial, a discriminação e a exclusão social – são de uma magnitude tal que nos obrigam a confrontar o pior do mundo. A militância, portanto, é uma forma de resistência, uma batalha constante contra a repressão do estado, da ideologia dominante e das várias formas de opressão.

A resistência, como nos ensina a prática militante, não é apenas uma questão de confronto direto, mas também de entendimento e reflexão. Com o tempo, vamos percebendo que o mundo funciona de forma desigual e injusta, onde a dignidade humana é muitas vezes negada. A militância é, então, a reação a essa brutalidade: não só como uma resistência ativa, mas também como uma forma de cuidado. A força necessária para resistir vem do cuidado consigo mesmo e com os outros, como a música de Gal Costa nos ensina: é preciso estar atenta e forte.

Cuidar uns dos outros é, portanto, uma parte essencial da luta. O cuidado é a base para a resistência, pois é ele que nos permite manter a força necessária para continuar. O cuidado que devemos cultivar é o cuidado com a nossa saúde mental e emocional, com o nosso bem-estar e o de nossos companheiros de luta. As adversidades e o desgaste das batalhas podem nos enfraquecer, mas é no cuidado mútuo que encontramos a força para seguir adiante.

Dentro desse contexto, é essencial lembrar que a opressão não pode ser disfarçada de liberdade de expressão. Defender discursos que oprimem os outros não é um exercício legítimo de liberdade. A liberdade de expressão não deve ser confundida com a permissão para perpetuar a discriminação ou o preconceito. Todos têm o direito de se expressar, mas essa liberdade não pode ser usada para ferir os outros, para sustentar ideias que causam sofrimento ou exclusão.

A recente fala de Maycon Golveia ilustra essa realidade de forma contundente. Ao relatar o ataque sofrido no contexto do Show Medicina, ele destaca a violência simbólica de negar a vítima o direito de se sentir ofendida. Essa negação da dor alheia e o desrespeito à percepção da vítima são formas insidiosas de violência, que, embora não físicas, são igualmente prejudiciais. A insistência em negar as intenções discriminatórias de um ato é uma tentativa de silenciar aqueles que lutam contra a opressão, de invalidar suas experiências e seus sentimentos.

O cuidado, portanto, não é apenas uma prática de proteção e acolhimento, mas também uma forma de resistência contra a indiferença e a violência simbólica que muitas vezes permeiam as relações sociais. A militância, então, exige que nos envolvamos com os outros, que possamos ouvir, compreender e apoiar aqueles que estão na linha de frente dessa luta. E, como nos lembra Maycon Golveia, reconhecer a dor e o sofrimento dos outros é uma forma de resistência à opressão e à injustiça que ainda permeiam nossas instituições e sociedades.

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