O golpe

Não tenho Secret, pois me recuso a sustentar um aplicativo que se baseia no anonimato e, portanto, na impunidade como forma de expressão, ou seja, um aplicativo que se propõe a aprofundar a falta de ética, mas recebi algumas coisas que só constatam o que já sabíamos.

Vi preceptores ameaçando deixar de dar aulas por conta da existência dos coletivos (e minha); vi meu nome sendo citado e exposto na minha página do facebook, após uma postagem contra o governo Bolsonaro e ao linchamento pelos que discordam de minhas posições, que, entretanto, sempre foi de estar do lado de minorias e a favor dos direitos humanos; vi deslegitimarem o direito de se organizar e buscar mudanças através da política por meio da ridicularizados e da coibição daqueles que vislumbram um mundo sem exploração e sem opressões. Ignoram os fatos e nos dizem estarmos delirando, num derradeiro golpe a fim de tirar a sanidade das críticas ao ambiente que, também por isso, adquire traços cada vez mais totalitários.

Até aí, só dou meu pesar pela profunda ignorância sobre a vida baseada em conquistas de direitos. Porém, também tive o dissabor de ver gays dizendo com orgulho que não são representados por minhas ações.

A partir daí, mediante a generalidade, questiono se foi no momento em que peitei junto a 150 pessoas aqueles que disseram que LGBTQlA+ não poderiam frequentar o mesmo espaço que heterossexuais; questiono se foi no momento em que repudiei os hinos que usam de nossa sexualidade para “humilhar” outras entidades.

Questiono se foi no momento em que dei visibilidade para uma prática que ficava escondida no título “secreto” dos grupos em que as pessoas se sentiam mais confortáveis para serem quem são; questiono se foi no momento em que denunciei as práticas que fazem das diferenças motivo para humor pejorativo em função do pertencimento ao grupo hegemônico; questiono se foi no momento em que não tive medo de apontar aqueles que sempre ficaram incólumes às práticas opressivas e os denominei como reprodutores de violência; questiono se foi no momento em que fui pessoalmente a cada um que curtiu um post específico, que incitava a expulsão dos membros dos coletivos da faculdade, a fim de expor a tendência autoritária e retrógrada a respeito do Estado de direitos conquistado com muito custo ao longo de nossa história.

Preservo todo direito de me questionarem e de discordarem de mim. E me esforço para estar aberto ao debate e diálogo. Inclusive, me preparo todos os dias para isso e repenso minhas ideias para sempre manter uma autocrítica política. Porém, dizer que não me apoia para se manter amiguinho do grupinho no poder, numa clara Síndrome de Estocolmo ou num oportunismo barato, é ser aquilo que, de fato, eu não quero jamais representar.

Não me exponho para defender interesses restritos à minha esfera privada, mas para buscar algo que transcenda esse individualismo particular tão predominante e que vá finalmente em direção a um triunfo mais universal. Posso ser presunçoso, mas meu pecado certamente não é pensar só no meu umbigo.

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