Entre o anonimato e o confronto: uma reflexão sobre luta, representatividade e ética

A recusa ao anonimato, a defesa de direitos e o enfrentamento às opressões geram embates que transcendem o individual e evidenciam as contradições de uma sociedade que, muitas vezes, valoriza a omissão em detrimento do compromisso com mudanças estruturais.

Não utilizo aplicativos que promovem o anonimato como ferramenta principal, pois acredito que tais plataformas frequentemente reforçam a impunidade e a falta de ética. No entanto, relatos recebidos por terceiros apenas confirmaram o que já era evidente: a resistência ao debate e à mudança ainda é um obstáculo central em ambientes que deveriam prezar pela evolução social e política.

Recentemente, fui alvo de ataques em diferentes frentes. Preceptores ameaçaram abandonar suas funções devido à existência de coletivos que questionam o status quo, enquanto minha página no Facebook se tornou palco de linchamentos digitais por conta de posicionamentos políticos contrários ao governo Bolsonaro e favoráveis aos direitos humanos. A tentativa de deslegitimar iniciativas políticas e coletivas, utilizando o escárnio e a coibição como armas, é uma estratégia recorrente que visa minar a sanidade e a legitimidade das críticas em espaços que, cada vez mais, assumem características autoritárias.

Até certo ponto, tais episódios refletem a profunda ignorância sobre a importância das conquistas históricas dos direitos humanos. No entanto, o que mais me desapontou foi constatar que membros da comunidade LGBTQIA+ também se distanciam de minhas ações, alegando que não se sentem representados por elas. Essa postura me levou a questionar: em qual momento falhei em representar minha própria comunidade?

Será que não os represento quando denuncio práticas excludentes e discursos que utilizam nossa sexualidade como arma de humilhação? Ou quando enfrento abertamente aqueles que tentam invisibilizar práticas discriminatórias em espaços públicos e privados? Talvez o ponto de ruptura tenha ocorrido ao desafiar as estruturas hegemônicas e nomear quem perpetua violências de maneira sistemática. Ou quando confrontei diretamente aqueles que apoiaram, mesmo que de forma passiva, postagens que incitavam a expulsão de coletivos da faculdade, expondo a mentalidade autoritária que ameaça os avanços históricos em direitos.

Reconheço e respeito o direito de discordância. Sempre me esforço para estar aberto ao diálogo, revisitando minhas ideias e mantendo uma autocrítica constante. Porém, rejeitar apoio em nome de agradar grupos que perpetuam o status quo, numa evidente Síndrome de Estocolmo ou em busca de vantagens individuais, representa justamente o tipo de comportamento que busco evitar: uma postura conivente com a opressão e alheia à responsabilidade coletiva.

Minha luta não é movida por interesses egoístas ou por um desejo de autopromoção. Meu objetivo é transcender o individualismo predominante e contribuir para um projeto que priorize o bem-estar coletivo. Se minha determinação em questionar e enfrentar sistemas opressores me torna presunçoso, aceito a crítica. Mas que fique claro: meu erro jamais será pensar apenas em mim.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.