Uma reflexão sobre os retrocessos políticos e a ameaça à democracia no Brasil.
Nos últimos tempos, a ideologia integralista e fascista tem encontrado uma expressão nunca antes vista no Congresso Nacional. Sob os pretextos de palavras como Deus, Povo, Nação, Progresso e Futuro, uma narrativa de “salvação do país” tem sido construída, mas, na prática, o que se vê é um retrocesso que leva à substituição de figuras como a ex-presidente Dilma Rousseff por nomes envolvidos em escândalos de corrupção, como Michel Temer e Eduardo Cunha. Essa retórica que visa depor uma presidenta sem acusações formais de corrupção, em nome de um país livre da corrupção, evidencia o caráter paradoxal do golpe que se deu naquele momento.
Ao se alicerçarem nas bandeiras de Família, Agronegócio e Evangelismo, certos deputados adotam uma postura messiânica, se apresentando como heróis que representam uma “nova era” para o Brasil, uma narrativa que, na realidade, não se concretiza em mudanças substanciais. A luta de um país mais justo e igualitário desaparece quando as discussões se tornam abstratas, destituídas de uma reflexão real sobre as condições de vida da população. Ao contrário de um debate pautado pela justiça, vemos um jogo de palavras que atende ao apelo da mídia e à pressão pública volúvel.
Em meio a esse cenário de cinismo e hipocrisia, conceitos fundamentais como “democracia” e “constituição” são esvaziados de seu verdadeiro significado. A democracia, para esses parlamentares, não é mais um compromisso com as instituições e a preservação dos direitos civis, mas um voluntarismo popular que desconsidera os princípios constitucionais e os ritos democráticos. A eleição de um governo legítimo, que deve cumprir seu mandato, passa a ser vista como uma afronta ao “povo”, especialmente quando a oposição política se manifesta.
O conceito de “povo” utilizado por esses parlamentares é extremamente homogêneo, não contemplando a pluralidade de opiniões e de grupos sociais que compõem a sociedade brasileira. Para eles, ser representante do povo significa ser o único legítimo porta-voz, desconsiderando a diversidade de pensamentos e a luta das minorias. Isso se reflete em decisões políticas que, ao invés de avançarem na construção de uma sociedade mais democrática, alimentam retrocessos nos direitos de mulheres, negros, e outros grupos marginalizados.
O futuro parece promissor para os que buscam resistir a essa onda autoritária, mas, infelizmente, as instituições democráticas se tornam cada vez mais deslegitimadas, deixando a população sem confiança no sistema político vigente. A retirada de direitos, especialmente dos grupos oprimidos, torna-se uma ameaça constante. Em um cenário como esse, a organização popular radical e o trabalho de base se tornam a única saída para a resistência.
O impeachment de Dilma Rousseff, acompanhado da hipocrisia que dominou as ações dos parlamentares, torna-se um marco de uma luta pela preservação dos interesses de uma elite privilegiada. O livro “Tchau, Querida — O Diário do Impeachment”, de Eduardo Cunha, representa essa narrativa de forma explícita, trazendo à tona os bastidores de um processo que não teve qualquer fundamento ético ou jurídico, mas que foi movido por interesses pessoais e partidários.
Diante desse cenário, a razão, as ideias e a verdade se tornam instrumentos essenciais de resistência. É preciso que a sociedade, em sua diversidade, se una para reafirmar seus direitos, sua dignidade e sua liberdade. A luta por justiça social e por um Brasil verdadeiramente democrático e plural continua sendo, mais do que nunca, uma necessidade urgente.