Refuto ao pecado

O pecado passa a existir na mente a partir de uma auto-crítica. Isto é, uma percepção subjetiva das próprias atitudes, a qual obtém intrinsecamente a interpretação como fonte de averiguação. O pecado existe a partir dessa sensação comparativa entre o que se pressupõe correto e o que se acredita ter sido executado.

Assim como alega Nietzsche em “A Genealogia da Moral”, essa sensação não deveria ser nada senão um mal-estar fisiológico do ponto de vista moral. Entretanto, como podemos verificar, a culpa passa a ser reivindicada como fato entre as religiões, pois, reagem a ela com imediatismo, com punição e com correção.

Interpretar algo como errado não prova que isso de fato esteja errado, assim como interpretar algo como correto não prova que isso de fato esteja correto. A exemplo das diversas sensações que temos ao desempenhar alguma atividade, seja de “ir bem numa prova” ou de “ter acertado na receita”.

Diferente das avaliações que executamos entre os homens, as quais ganham uma resposta e um julgamento de outrem, o avaliador que julga o nosso desempenho moral, todavia, nunca se apresenta. Essa percepção sempre parte do próprio indivíduo e restringe-se a ele, inclusive na decisão e na maneira de reportar o ocorrido ao chefe religioso, o qual, apenas a partir da narrativa do fiel, infligirá uma pena. Em suma, o achismo é inescapável da manutenção da integridade religiosa.

Como dito, a culpa não trás qualquer comprovação de que estejamos errados, mas, na contramão disso, o pecado assume essa interpretação como evidência incontestável. É um erro intrínseco, um tipo de contradição.

O que ocorre é a auto-crítica religiosa pressupondo que há um avaliador para as nossas atividades; um avaliador que considera correta e irrefutável a interpretação desse indivíduo. O avaliador da mente que é constituído pela própria mente. No fim, é a própria criação de Deus presente na imaginação desses sujeitos.

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