No último dia 23, o Brasil demonstrou uma força impressionante ao eliminar uma participante do reality show mais assistido do país, Karol Conká, com 99,17% dos votos. Porém, o que se questiona é a discrepância de reação quando se compara a repercussão de uma figura pública de um programa de entretenimento com a falta de ação diante de um líder político que representa uma ameaça real à sociedade.
O cenário descrito sobre o reality show é um reflexo de como o Brasil reage com vigor a um estereótipo de pessoa “chata” e de comportamento desagradável, como a artista Karol Conká, enquanto se mantém apático em relação ao governo que, em sua gestão, negligenciou a vida de milhares de brasileiros durante a pandemia. O número expressivo de votos contra Conká, 282 milhões, supera a quantidade de votos recebidos por Trump e Biden nas eleições americanas, e ainda é mais que o dobro da quantidade de votos que elegeram o atual presidente, Jair Bolsonaro. Essa discrepância levanta um questionamento fundamental: por que a sociedade brasileira reage com tanta força contra uma participante de reality show, mas não consegue se mobilizar da mesma maneira para enfrentar um governante cujas ações têm causado um sofrimento real, como a omissão no combate à Covid-19?
A indignação da população parece ser mais reativa a comportamentos individuais que não condizem com a norma social de convivência, mas quando se trata de atitudes sistemáticas que afetam o coletivo, como a política de Bolsonaro, o silêncio é ensurdecedor. A resposta imediata à Karol Conká, embora legítima no contexto de um jogo, expõe uma incapacidade mais ampla de abordar problemas mais estruturais que envolvem a saúde, os direitos humanos e a justiça social. A postura de Bolsonaro, com seu negacionismo em relação à pandemia e à vacinação, representa um risco iminente para a população, mas as manifestações contra sua gestão são menores do que as que seriam esperadas diante da gravidade da situação.
O Brasil já contabiliza mais de 250 mil mortes por Covid-19, o segundo maior número no mundo, e o ritmo lento da vacinação piora a crise. A cada novo recorde de mortes, a pergunta que se coloca é: onde está a indignação coletiva? O povo brasileiro direciona sua energia para causas momentâneas, como um personagem da mídia, mas se esquece do impacto duradouro e profundamente negativo de um governo que destrói as bases da cidadania com suas políticas equivocadas. A falta de ação popular contra a omissão e incompetência do governo é uma ameaça mais concreta ao bem-estar de todos.
A verdadeira luta, e talvez o maior “paredão” que o Brasil deveria enfrentar, é contra o atual governo, cujas ações têm contribuído diretamente para a crise sanitária, econômica e social que o país vive. A verdadeira urgência é no enfrentamento de um líder que, por sua postura irresponsável, coloca em risco vidas todos os dias, negligenciando as necessidades da população em prol de um projeto político que prioriza o poder em detrimento da saúde e da dignidade humana.
A sociedade brasileira, portanto, se vê diante de um dilema. Enquanto a indignação popular é alimentada por questões triviais, o verdadeiro vilão continua a governar com impunidade. O Brasil precisa urgentemente redirecionar seu olhar e sua energia para os reais problemas que afetam a vida de todos, e não perder tempo e recursos com as distrações que, por mais amplificadas que sejam, não fazem frente ao que realmente precisa ser combatido.