Um dos maiores imperativos da nossa sociedade, que é uma sociedade do sucesso e do fracasso individual, é a eliminação da “mentalidade de curto prazo” (o foco nos resultados e nos prazeres imediatos), visando a um sacrifício do presente em benefício do futuro.
Ao mesmo tempo, um dos maiores males da nossa sociedade é a depressão, que entre outras coisas é uma doença que condiciona o indivíduo a buscar prazeres imediatos para sobreviver. O deprimido, para a nossa sociedade, é a face do fracasso.
Assim, temos um exemplo do que podemos chamar de psicofobia estrutural: a incompatibilidade intrínseca entre o sistema e as doenças mentais.
A questão se torna mais complexa e interessante quando percebemos que este sistema, por sua própria estrutura ideológica de sucesso e fracasso individual, é também o principal responsável por causar as doenças mentais de maior prevalência: a depressão e a ansiedade. Concluímos, assim, que sua forma de operação é a da seleção natural, ou seja, a estrutura produz aqueles a quem ela mesma excluirá.
Já os “sobreviventes”, selecionados arbitrariamente – como em toda seleção natural -, gostam de chamar isso de meritocracia.
O intuito talvez seja o de ficarem menos deprimidos, sobrevivendo à arbitrariedade por extingui-la do campo de visão. Porém, o principal resultado acaba sendo o fortalecimento da estrutura de exclusão e a reiteração do estigma de fracasso sobre os doentes. O golpe final da ideologia de sucesso e fracasso individual é a comum advertência sobre os doentes mentais pedindo que tenham “força de vontade” para superarem suas condições.
Culpam-se os doentes por estarem doentes e responsabilizam-se eles pelo processo de cura. Mas o principal efeito é exatamente o aprofundamento do sofrimento e o prejuízo da reabilitação dessas pessoas.