O impeachment de Dilma Rousseff: uma análise do golpe e da luta de classes

Uma reflexão sobre a fragilidade do processo e os contrastes políticos.

Dilma Rousseff, durante o processo de impeachment, deixou uma lição de dignidade, enfrentando um processo pautado em pretextos frágeis e manipulações. Sua postura firme, sustentada por uma trajetória de vida íntegra, foi fundamental para a defesa de seu governo. Ela se utilizou de um recurso poderoso: levantar os contrastes entre a sua história e a dos seus opositores, e entre a condução de seu governo e as propostas do governo interino, que representavam uma ruptura não apenas com a presidenta, mas com a escolha popular expressa nas urnas.

O impeachment, baseado em argumentos frágeis e infundados, indicava um golpe — um golpe brando, mas igualmente perigoso, cujas intenções eram claramente usurpar o poder e desrespeitar a decisão popular. No contexto, a atuação dos juízes, que pareciam agir contra a própria ideia de justiça, evidenciava o caráter tendencioso e desprovido de legitimidade do processo. O impeachment de Dilma Rousseff, portanto, não foi apenas um golpe institucional, mas também um ataque à democracia e aos princípios de justiça que fundamentam a convivência social.

Porém, além da indignação de quem reconhece nela a vítima desse processo, há um desconforto maior para quem assume o papel de algoz da democracia. O cenário desolador é o de perceber que, para muitos, a questão do golpe — e até mesmo se o impeachment respeitou ou não os princípios constitucionais — não importa. O importante, para esses defensores do impeachment, é seguir em frente, em nome de uma suposta modernização, sem considerar os aspectos essenciais da democracia.

Esse pensamento revela uma visão totalizante, onde a modernização é definida por um único modelo e onde aqueles que discordam dessa perspectiva são vistos como um “problema” a ser corrigido. A postura autoritária se manifesta ainda mais quando a derrota nas urnas, como aconteceu com Dilma em 2014, é vista como algo inaceitável por aqueles que se consideram parte de uma classe “superior”. A eleição de Dilma foi encarada como um desvio de direção, uma falha do sistema democrático, que se vê desconsiderado em função de uma suposta necessidade de “ordem e progresso”, como se o debate democrático fosse um obstáculo à modernização.

Para esses setores ultraconservadores, a igualdade proporcionada pela democracia, onde um bilionário e um analfabeto têm o mesmo peso nas urnas, é inaceitável. A ideia de um governo que não esteja alinhado com os interesses dessa classe é vista como uma ameaça à sua posição social e econômica. A busca incessante por derrubar o governo eleito, e até mesmo prender seus líderes, revela a dificuldade de aceitar um sistema que permita o exercício de uma verdadeira democracia, com suas complexidades e desafios.

A cruzada sem provas contra Luiz Inácio Lula da Silva, que busca sua prisão sem qualquer justificativa legal, é a continuidade dessa intolerância. A arrogância de classe, manifestada no “tchau, querida”, sintetiza a tentativa de reverter as urnas e deslegitimar o processo democrático. No final, o que se observa é a tentativa de se impor uma visão de mundo autoritária, que não aceita a pluralidade de opiniões e a diversidade de pontos de vista, características essenciais da democracia.

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