O amanhã é a sombra projetada pela busca de sentido no presente.
O amanhã, tal como o concebemos, não passa de uma ficção. Ele não é um fato real, mas uma projeção do agora, que carrega as marcas do ontem. No fundo, ele é o reflexo do tempo que se desenrola à nossa frente, como uma consequência natural da percepção do passado. Quando afirmamos “eu sou”, estamos dizendo “eu fui”, e, por conseguinte, podemos crer que “eu serei”. O tempo, com sua história e cronologia, sugere que o futuro é apenas uma continuação da etapa mais recente de nossa jornada. Mas, ainda assim, surge a pergunta: por que, então, o amanhã existe?
O próprio ato de questionar o amanhã nos leva a uma reflexão sobre o motivo do passado. O presente, por si só, parece incompleto. Vivemos nossa existência projetando o passado sobre o agora, como uma tentativa de dar-lhe significado. Mas o que vemos do passado é fragmentado, uma colagem de momentos que apenas ganham vida no presente, na experiência que temos dele. No entanto, se ao presente falta significado, ele também carece de sentido. O presente puro é vazio, uma tela em branco que precisa de algo para preencher seu espaço.
Nesse vazio do presente, o futuro surge como a expressão do nosso desejo de existir. É como uma forma de preencher a falta, de dar continuidade a um fluxo que nos inquieta. “Eu sou, eu quero, eu faço, eu busco, eu mudo, eu vou” — palavras que projetam, no amanhã, uma esperança de que a falta será preenchida. O futuro, assim, se torna uma tentativa de lidar com nossa angústia de estarmos vivos, uma angústia que nos impede de aceitar o vazio existencial. Precisamos de algo a mais, de um propósito, e por isso projetamos o amanhã, como uma forma de responder à inquietação que sentimos.
O amanhã não existe sem a consciência de que estamos vivos e em movimento. Ele se alimenta dessa necessidade de dar significado à nossa existência. Assim, na busca por sentido, projetamos o futuro como uma promessa de completude. Eu sou, mas o que sou é o que serei. E, nesse movimento contínuo, caminho antes mesmo de caminhar, pois sou, na essência, apenas o que estarei por vir.