Explorar a essência do ser humano, reconhecer a bondade interior e resistir às pressões externas são passos fundamentais para alcançar o bem em suas formas mais puras.
O imperativo ético de Sócrates, “Conhece-te a ti mesmo”, ecoa através dos séculos como um dos maiores apelos à reflexão e autoconhecimento. Sócrates, como um dos maiores pensadores da história, acreditava que a verdadeira moralidade se encontra no entendimento profundo da própria essência, onde o homem, em sua essência, é bom. Esta visão filosófica não apenas lançou as bases do pensamento ético ocidental, mas também chamou a atenção para a importância de uma vida examinada, onde o entendimento e a clareza interior são fundamentais para a prática do bem.
Milênios após Sócrates, Hannah Arendt reforçou essa ideia ao afirmar que o mal é sempre um desvio extremo da natureza humana, e a radicalidade do bem reside na capacidade de cada indivíduo de ser plenamente coerente consigo mesmo. Aqueles que estão em sintonia com sua essência, que buscam uma vida de leveza e que não sacrificam sua própria consciência, são capazes de resistir às pressões externas que, muitas vezes, os levam a praticar o mal. Para Arendt, a verdadeira radicalidade do bem está em sua capacidade de se manter firme diante da adversidade e da tentação do mal, algo que só pode ser alcançado por meio da introspecção e da autenticidade.
Essa ideia de autenticidade e conexão com o próprio ser encontra um paralelo claro no apelo de Sócrates aos governantes: “Conhece-te a ti mesmo, que assim saberás o caminho do bom governo dos homens”. O bom governo, para Sócrates, não é apenas uma questão de estratégias políticas ou de domínio das artes da liderança, mas sim um reflexo do entendimento profundo de si mesmo. Quanto mais próximos estivermos de nossa essência, mais alinhados estaremos com o bem, pois, como Sócrates afirmava, ninguém em sã consciência deseja se associar ao mal. Afinal, o mal, em sua forma mais pura, não é algo que qualquer ser humano queira, pois ninguém deseja ser como Mefistófeles, o arquetípico representante do mal.
E é nesse ponto que a filosofia socrática encontra eco na mensagem cristã de Jesus de Nazaré, que afirmou que Deus habita no coração de cada um de nós. O caminho para se aproximar de Deus, segundo Jesus, passa pela aproximação de nós mesmos, pois, ao conhecermos nossa verdadeira essência, encontramos a presença divina em nosso interior. A busca pelo autoconhecimento, portanto, não é apenas uma jornada pessoal, mas uma jornada espiritual. Ao nos aproximarmos de nossa própria natureza, descobrimos a verdade divina que habita em nossos corações, conduzindo-nos ao bem e à verdadeira moralidade.
Assim, o legado de Sócrates, reforçado pela reflexão contemporânea de Hannah Arendt, encontra sua culminância na mensagem espiritual de Jesus, que sugere que o autoconhecimento é a chave para a verdadeira conexão com o divino. Quanto mais nos compreendermos, mais próximos estaremos do bem e, portanto, de Deus. A verdadeira bondade, como a verdadeira sabedoria, não se encontra em teorias abstratas, mas sim na autenticidade de nossas ações e na sinceridade com que vivemos nossas vidas.