A Paixão como Essência da Existência Humana

Para compreender a essência do ser humano, é necessário olhar para as três qualidades das atividades humanas segundo a filosofia clássica: Ethos, Logos e Pathos. Dentre elas, é a paixão, ou Pathos, que verdadeiramente move o homem, dando sentido à sua existência e construindo suas relações com o mundo e com os outros.

A ideia de que o homem é um ser apaixonado não é apenas uma observação do comportamento humano, mas uma afirmação sobre a própria natureza da existência. O homem se constitui como sujeito não de maneira isolada, mas no contato com o mundo e com os outros seres humanos. Essa interação é o que define sua humanidade, o que faz com que o homem se torne verdadeiramente quem é. Nesse processo, a paixão, o Pathos, ocupa um papel central.

A filosofia clássica, especialmente a aristotélica, oferece uma divisão importante para entendermos as qualidades que fundamentam as atividades humanas. Aristóteles descreve três elementos essenciais: Ethos, Logos e Pathos. O Ethos é a virtude moral, a bondade da ação, o princípio da ética e da moralidade. O Logos é a racionalidade, a coerência do pensamento, a capacidade lógica de entender e aplicar o conhecimento. E, finalmente, o Pathos, que é a dimensão emocional, afetiva, a maneira como o ser humano se relaciona emocionalmente com o mundo e com o outro.

Dessas três qualidades, é o Pathos que mais profundamente define o movimento humano. Enquanto a razão (Logos) pode orientar, e a moralidade (Ethos) pode estabelecer limites e princípios, é a paixão, o afeto, que realmente faz o ser humano agir, mudar, se transformar. O Pathos é a força motriz que permite a troca entre o Eu e o Outro, gerando uma dinâmica dialética de construção e reconstrução. É no afeto que o sujeito e o objeto trocam de lugar, e é aí que se encontra o movimento da vida.

Ao afirmar que a paixão dá sentido aos sentidos, podemos entender que são os afetos, as emoções e as paixões que tornam a experiência humana significativa. Sem a paixão, o mundo seria uma abstração distante, algo meramente racional ou moral. É no afeto, na intensidade da experiência emocional, que o ser humano realmente se expõe ao mundo, se reconhece e se constrói. Quando amamos, sofremos, desejamos, sentimos, é isso que nos faz realmente existir. A paixão é aquilo que transforma o homem de um ser hipotético em um ser real, concreto e presente no mundo.

A plenitude do ser, portanto, não está na ausência de emoções ou na racionalização excessiva da vida. Está na paixão, na intensidade do afeto. Quando amamos, por exemplo, nos entregamos por completo, nos movemos em direção ao outro com toda a nossa energia. A paixão é o que dá sentido à nossa existência, e é através dela que nos reconhecemos como seres humanos.

Por isso, quando se afirma que se ama com todas as forças, não se trata apenas de uma exaltação do sentimento, mas de um reconhecimento profundo da paixão como a força que dá sentido à vida, ao movimento, e à construção da nossa identidade. Amar é, na verdade, o movimento mais autêntico da existência humana, pois é através do amor que o ser humano se define e se realiza.

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