O Desamparo e o Desafio Político da Pós-Modernidade

O desamparo é a experiência central da condição humana e social, uma sensação de impotência que permeia a ação e o discurso, tornando impossível a transformação da realidade. Na pós-modernidade, esse desamparo se torna ainda mais profundo e abrangente, refletido em movimentos extremistas, fundamentalismo e a virtualização da política.

O desamparo, essa sensação de impotência diante da realidade, está intrinsecamente ligado à experiência humana desde os primórdios da modernidade. A história da humanidade, marcada por um distanciamento crescente das certezas absolutas, está também marcada pela ascensão dessa impotência, que se manifesta de diversas formas. Quando o discurso não encontra eco, quando a ação não gera transformação, o ser humano experimenta o desamparo: a frustração de não conseguir modificar o curso dos acontecimentos.

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Na virada para a pós-modernidade, ou hipermodernidade, o desamparo se amplia e se radicaliza. Não é mais uma característica restrita a indivíduos ou grupos específicos, mas uma experiência coletiva e genérica.

A sociedade contemporânea, em sua incessante busca por novas formas de compreensão e expressão, se vê cada vez mais impotente, com suas ações políticas e discursos sendo engolidos pela vastidão das redes sociais, pelo bombardeio de informações, e pela fragmentação das ideologias. O desamparo não é mais um estado episódico, mas uma condição permanente.

Esse desamparo se reflete nos fenômenos que marcam o nosso tempo: o crescimento de movimentos políticos extremistas, a ascensão do fundamentalismo religioso entre as massas e a adesão das pessoas a uma política virtualizada, construída não mais nas praças, nas ruas ou nas instituições, mas em plataformas digitais que fragmentam a experiência política.

Nesse cenário, a política tradicional parece ser substituída por uma luta pela visibilidade, onde quem tem voz é quem se conecta diretamente com um número maior de pessoas, e a mudança se dá em espaços efêmeros e muitas vezes superficiais.

O desafio político que enfrentamos hoje é, sem dúvida, o maior de todos. Ele não se limita à luta por mudanças pontuais ou reformas políticas, mas à restauração da própria possibilidade de uma política genuína.

A verdadeira política não é mais apenas uma questão de disputar poder ou representar interesses, mas de resgatar a capacidade de engajamento humano e social. É, de fato, um desafio existencial: como podemos criar uma política que seja capaz de resgatar a solidariedade, não apenas para o outro, mas também para nós mesmos? Uma solidariedade que seja capaz de gerar espaços de ação política autêntica, que não se percam nas falácias do discurso virtual ou nas tentativas de controle.

Nesse contexto, a política precisa se reinventar. Não basta mais reivindicar mudanças; é necessário recuperar o valor da ação política como algo capaz de transformar efetivamente a vida das pessoas. É preciso ir além da retórica, do espetáculo, e criar espaços de verdadeira transformação social.

Isso envolve, entre outras coisas, um esforço para reconectar as pessoas com o sentido da política enquanto prática coletiva, e não apenas enquanto exercício individualista e fragmentado. A política deve ser capaz de curar o desamparo, e, para isso, é preciso que a solidariedade seja real e transformadora, não apenas um slogan vazio.

Portanto, o maior desafio do nosso tempo não é apenas o combate aos sistemas de poder estabelecidos, mas a criação de uma política que seja capaz de lidar com o desamparo de todos, de restabelecer a confiança nas instituições e nas pessoas, e de recuperar a capacidade de agir de forma coletiva para transformar a realidade. O desamparo, esse mal silencioso e corrosivo, só será superado se formos capazes de reconstruir os laços de solidariedade que nos unem como sociedade.

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