O Declínio da Mitologia e a Ascensão da Filosofia: A Transição do Imortal para o Eterno

Quando a filosofia emergiu na Grécia Antiga, ela representou o fim de um período de explicações mitológicas sobre o mundo e a ascensão de uma nova maneira de compreender a realidade. A busca por verdades eternas tomou o lugar das narrativas divinas, marcando uma revolução no pensamento humano.

Nos primeiros tempos da Grécia, tanto os filósofos quanto os deuses do Olimpo estavam unidos por um amor comum: o deleite na contemplação. Os deuses, imortais e distantes das necessidades terrenas, observavam o mundo sem as limitações humanas. Para os mortais, a contemplação da beleza e da harmonia do universo, conhecida como kalogathia, representava uma forma de se aproximar da divindade. Esse prazer compartilhado no olhar para o mundo parecia reunir os humanos e os deuses em uma experiência sublime.

No entanto, foi a filosofia que trouxe uma visão crítica e transcendente, percebendo que a imortalidade dos deuses não era suficiente. Ao refletirem sobre a natureza da existência, os filósofos concluíram que, embora os deuses fossem imortais, eles não eram eternos. Sua existência estava limitada ao tempo, com nascimento e fim, o que os tornava vulneráveis e inconstantes. A imortalidade, portanto, não oferecia uma segurança definitiva, pois o que não é pode, em algum momento, deixar de ser.

A filosofia, por sua vez, vislumbrou algo superior: a eternidade. O eterno não está sujeito às leis do tempo, pois não tem começo nem fim. Ele é imutável, constante e impassível às flutuações do mundo físico. O eterno foi concebido como aquilo que foi, é e será — o princípio e o fim, sem nascimento ou destruição. Esse conceito revolucionário encontrou expressão no pensamento de Anaxágora, que denominou o eterno como o “Ser”, e em Parmênides, que afirmou que “ser e pensar são a mesma coisa”.

Para Parmênides, o pensamento e o ser se confundem: ao pensar no que é, o homem está necessariamente diante da verdade eterna. A filosofia não mais se preocupava com os caprichos dos deuses, mas com a busca pelo entendimento da realidade como algo eterno e intransigente. Esse movimento metafísico afastou as antigas crenças mitológicas e colocou o Ser como a nova divindade grega, um princípio absoluto e universal.

A filosofia se tornou a via que conduzia o homem não mais para o Olimpo, mas para além dele, para uma compreensão mais profunda do universo. Por meio do pensamento racional, o homem passou a almejar a eternidade, transcendendo as limitações do mundo físico e alcançando os céus não por meio da intervenção divina, mas pela própria força do intelecto. Nesse novo paradigma, os deuses foram substituídos, e a filosofia emergiu como a verdadeira forma de contemplação e busca pela verdade absoluta.

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