O preconceito é uma realidade triste

Tenho lido alguns textos pipocando sobre bifobia, e a primeira coisa a ser dita é que negar a existência de pessoas bissexuais é uma das iniciativas mais burras que pessoas LGBT podem ter. Bissexuais existem, isso é um fato e independe da opinião de vocês.

Entretanto, vou pontuar uma questão importante para essa relação complexa que está se consolidando dentro da sopa de letrinhas LGBTQlA+. Também é um fato que as pessoas monossexuais homossexuais, tanto lésbicas, quanto gays, sentem-se mais inseguras frente a parceiros bissexuais.

E deveria ser óbvio que, numa sociedade heteronormativa, relações heterossexuais gozam de privilégios frente a relações homossexuais, ainda que protagonizadas por pessoas bissexuais – cabe ressaltar que pessoas bissexuais em si de forma alguma são privilegiadas enquanto sujeitos bissexuais, mas uma relação entre pessoas do gênero oposto é, digamos, por si só passável perante os olhos da sociedade.

Para a maioria das pessoas homossexuais com quem já conversei ao longo da vida, ser trocado por alguém do gênero oposto parece doer um pouco mais do que por alguém do mesmo gênero. Pelo menos, é claramente o meu caso.

É semelhante ao que pessoas trans dizem a respeito de serem preteridas por pessoas cis, ou pessoas negras a respeito de serem preteridas por pessoas brancas. Dói porque essas relações derivadas da opressão vêm das sombras, do sigilo, da segunda opção, e nós ainda lutamos pelo nosso espaço ao sol, pelo direito ao espaço público e pelo orgulho.

O movimento de lésbicas e de gays tem avançado, mas ainda estamos distante de uma condição de plena igualdade.

Por esta razão, cabe pontuar que, se uma pessoa bissexual trata suas relações com pessoas do gênero oposto de modo equivalente a como ela trata suas relações com o mesmo gênero, ela está caindo em nada mais nada menos do que em falsa simetria. Ela deve considerar o contexto homofóbico em que vivemos, cujo objeto não é somente o sujeito LGBTQlA+, mas a relação homossexual estabelecida entre esses sujeitos.

Por este motivo, para uma pessoa bissexual ser justa diante dessas vulnerabilidades, ela precisa sim ter um cuidado específico com seus parceiros do mesmo gênero no que tange a essa assimetria e insegurança, o que em suma é uma política de equidade.

Esta responsabilidade, comunidade B, é inteiramente sua e pelo que parece com esse bafafa todo não está sendo bem efetivada de forma coletiva. Por isso, o momento agora é de se organizar e discutir seriamente essas questões entre vocês.

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