A falsa ilusão

Grande parte da náusea que sentimos vem da sensação de que o mundo está de ponta cabeça. Quanto mais invertida a realidade, mais tiramos nossos pés do chão e ficamos suscetíveis ao vórtice da imaginação, que nos tira da Terra e nos lança ao céu.

O problema é que, a exemplo do que acontece com os astronautas quando sobem demais, podemos nos desgarrar da Terra a um ponto de não retorno, quando estamos em pirueta infinita em direção ao vazio absoluto.

A ficção e a realidade, nesse sentido, distinguem-se apenas pela primazia ou não dos fatos. Ambas são compostas também pela imaginação, pois até mesmo a realidade é constituída por uma pitada de fantasia. No entanto, enquanto na ficção a fantasia prevalece sobre os fatos, na realidade os fatos prevalecem sobre a fantasia.

O problema dos movimentos políticos ideológicos, os quais tentam submeter a realidade aos seus desejos independentemente do que a realidade apresenta, é justamente a negação dos fatos e o caráter de ficção que, por fim, carregam.

Quando chegam ao poder, envolvem a sociedade num grande vórtice de negação da realidade, lançando todos no espaço sem referência, onde não sabemos mais onde estamos, para onde vamos e de onde viemos. Em suma, perdemos os parâmetros necessários para determinarmos quem somos.

A náusea é a sensação de perda do chão sob os nossos pés. E é exatamente aí onde reside o critério superior da ética na política. Quando o poder sabe que pode negar os fatos, mas decide defendê-los de si mesmo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.