O conceito de ideologia, em seu sentido mais amplo, se apresenta como uma ferramenta de interpretação da realidade, capaz de transformar a percepção do mundo em algo aparentemente concreto e natural. Porém, essa construção nem sempre corresponde à realidade vivida por todos, e é justamente esse distanciamento que alimenta formas de opressão, como o racismo, o machismo e a homofobia. O verdadeiro desafio está em questionar as narrativas dominantes e expor as artimanhas que buscam deslegitimar as lutas por igualdade.

A ideologia é um fenômeno que opera profundamente nas consciências humanas, muitas vezes sem que as pessoas percebam sua presença. Grosso modo, podemos entendê-la como uma forma de consciência que pega a realidade imediata e a transforma em algo universal, criando um entendimento que muitas vezes mascara as desigualdades estruturais. A frase “todos somos seres humanos”, por exemplo, é uma verdade óbvia em sua superfície, mas quando analisada sob a ótica da ideologia, ela esconde um sistema de opressões que afeta diferentes grupos de maneira distinta, como os negros, as mulheres, os LGBTQIA+, e os pobres. A ideologia faz com que a desigualdade, que é uma realidade concreta e vivida, seja tratada como um mero desvio ou um erro da natureza.
No entanto, a ideologia não tem consciência própria; ela é moldada pela ignorância e pela falta de reflexão crítica. Isso não significa que quem reproduz a ideologia deva ser culpabilizado diretamente, pois essa reprodução ocorre em grande parte pela falta de questionamento e pela ausência de um debate profundo. Por isso, a ideologia precisa ser desconstruída por meio da discussão, da educação e do fortalecimento da democracia. A militância, que se posiciona contra a ideologia, precisa ser mais do que uma oposição passiva. Ela deve ser uma luta contra o reacionarismo que procura preservar as estruturas de poder e desigualdade.
Um exemplo claro disso é o movimento contra o que chamam de “ideologia de gênero” ou a defesa de uma “Escola sem partido”. Tais movimentos não estão realmente preocupados com a verdade ou com o bem-estar de todos, mas sim em manter uma ordem que favorece aqueles que estão em posições privilegiadas. Ao dizerem que discutir desigualdade de gênero, racial ou social é “ideologia”, buscam deslegitimar as experiências de quem sofre essas desigualdades, tratando-as como invenções ou delírios.
O reacionarismo é a principal força que trabalha para desvirtuar as lutas por igualdade. Ele ignora as experiências concretas das pessoas e, em seu lugar, coloca uma visão distorcida da realidade. O objetivo é transformar as discussões sobre racismo, machismo, homofobia e desigualdade social em questões secundárias ou “ideológicas”, quando, na verdade, elas são manifestações reais e urgentes das disparidades em nossa sociedade. Em outras palavras, as ideias que desafiam o status quo são rotuladas como ameaças, enquanto a opressão estrutural se disfarça de naturalidade.
Este tipo de manipulação ideológica é perigoso, pois não só nega as realidades concretas, mas também perpetua a injustiça. A “verdade” proclamada por essas correntes ideológicas é uma verdade conveniente para aqueles que têm poder, porque, ao afirmar que “todos somos iguais”, minimizam as desigualdades que persistem e protegem os privilégios que esses grupos possuem. A falsa ideia de que a igualdade já foi alcançada serve apenas para legitimar as injustiças que continuam a marcar a vida de muitos brasileiros.
Portanto, a luta contra a ideologia reacionária é uma luta por um entendimento mais profundo e verdadeiro da sociedade. Devemos continuar questionando as narrativas dominantes e denunciando as artimanhas de quem busca manter a ordem da desigualdade. O verdadeiro desafio está em resistir a essas tentativas de deslegitimação, expor suas falácias e afirmar, com firmeza, que as desigualdades sociais são reais e precisam ser enfrentadas. E, assim, seguimos em frente, vigilantes e prontos para expor as injustiças que continuam a se perpetuar em nosso país.