Lutar contra a opressão é um movimento profundo de abertura ao outro, um gesto radical de acolhimento e escuta. É reconhecer o outro como sujeito legítimo e dar espaço para sua história, muitas vezes silenciada, ser contada. No entanto, a luta não se resume à esfera institucional; ela exige um amor genuíno, que vai além das palavras e se traduz em atitudes concretas de respeito e empatia.
A luta contra a opressão não se resume apenas a uma contestação das estruturas de poder estabelecidas. É também uma postura interna, um avesso do ego, que exige um olhar atento para a existência do outro. Ao abrir espaço para o outro, é necessário também abrir o coração e a mente, não apenas para escutá-lo, mas para verdadeiramente dar-lhe voz. A opressão se manifesta não apenas nas grandes instituições, mas também no cotidiano das interações entre pessoas. Se falta amor no trato interpessoal, nenhuma reforma estrutural será capaz de efetivamente erradicar as desigualdades.
Esse amor, que deve ser a base de toda militância, é a força que possibilita a transformação das realidades mais duras e complexas. Em tempos de embrutecimento, onde a mercantilização da vida se espalha por todas as esferas sociais, a militância que mais se destaca é a militância da delicadeza. Mesmo nas situações em que é necessário um confronto direto, é possível preservar a ternura e a empatia, o que faz toda a diferença na construção de uma sociedade mais justa.
A recente saída de Lucas Penteado do Big Brother Brasil (BBB21) ilustra de maneira cruel a hipocrisia que permeia as discussões sobre identidade e militância. A reação ao beijo de Lucas em Gilberto, o primeiro beijo gay da história do programa, não veio apenas de setores conservadores da sociedade, mas também de pessoas que se intitulam militantes e progressistas, mas que, na prática, reproduzem o racismo e a homofobia de maneira velada. O comportamento de parte dos participantes do programa expôs a falácia da “desconstrução” e do “aberto apoio ao LGBTQIA+”, revelando um retrocesso nas pautas de diversidade e igualdade.
O fato de muitos dizerem que “não são homofóbicos” até que um amigo gay decida viver publicamente sua sexualidade, demonstra a fragilidade das supostas adesões à luta por direitos humanos. No entanto, quando o assunto sai do campo das discussões e entra no âmbito das experiências concretas, a intolerância se revela. O tratamento dado a Lucas Penteado, e o apoio que ele recebeu fora da casa, expõe a discrepância entre a militância da “boca para fora” e a prática real de acolhimento.
Essa dualidade é ainda mais clara quando observamos a postura de alguns participantes do programa. Enquanto Lucas e outros enfrentavam o preconceito e o silenciamento de suas vozes, alguns, como Projota e Lumena, se afastaram das pautas identitárias, priorizando suas próprias ambições e interesses pessoais. A manipulação da narrativa por parte da Globo e a forma como certos debates foram silenciados dentro do programa evidenciam o quão longe estamos de uma verdadeira inclusão social.
O fato de que Sarah, uma mulher branca, foi a única a demonstrar empatia genuína por Lucas revela que a luta contra a opressão não se dá apenas entre os oprimidos e os opressores, mas dentro dos próprios grupos marginalizados. A ausência de solidariedade e a falta de consciência de classe de alguns participantes mostram como a luta identitária pode ser, muitas vezes, usada como ferramenta para a manutenção de privilégios individuais, em vez de promover a igualdade e a justiça social.
Este episódio nos lembra que a luta contra o preconceito deve ser, acima de tudo, uma luta por solidariedade e consciência coletiva. Não basta aderir à luta contra a opressão de maneira superficial. É necessário um comprometimento profundo com os valores da empatia, do amor e da justiça. É preciso estar disposto a escutar, a dar voz e a apoiar, não apenas dentro das instituições, mas nas interações cotidianas e nas relações interpessoais. A verdadeira militância vai além das palavras; ela se reflete nas ações concretas que fazem a diferença na vida de quem mais precisa.
Esse episódio também revela um outro ponto importante: a necessidade de refletirmos sobre os oprimidos que, em nome de uma falsa liberdade, acabam defendendo uma lógica de subserviência. A luta pela verdadeira emancipação passa por uma tomada de consciência coletiva e pela rejeição de privilégios individuais que reforçam as desigualdades. A verdadeira militância não se resume à retórica ou ao discurso bonito, mas à ação transformadora e ao compromisso com a justiça social para todos.