Como nem só de quarentena vive o homem, textinho de filosofês para esse domingo à noite.
Amo:volo ut sis. Já dizia Agostinho, o filósofo. Amo, quero que sejas.
O Amor é cego? Não, o amor a tudo vê. No amor vemos o todo e as partes em harmonia. É a aceitação da diferença que faz dela parte integrante das igualdades. O amor universaliza, abraça todas as singularidades.
Cego é o ódio. Este pega a parte e extrapola para o todo. Reduz o todo à parte, fixa-se apenas num ponto, e a tudo observa apenas por essa parcialidade suprema. Com seu colar elizabetado, o ódio é uma fenda, que foca de alvo em alvo, transmuta de objeto a objeto como se fossem o mesmo, indiferenciado.
Enquanto o amor perdura e torna cada ser único e irrepetível, o ódio é descartável, substituível, homogeiniza a totalidade.
O que as pessoas chamam de amor, mas que se mostra cego, pois não vê o outro, submete-o à posse, ao ciúmes, ao controle e à auto-aniquilação, na verdade é uma forma de ódio. Muitas paixões são puras versões de ódios.
Já aqueles que chamam de cego o amor que na verdade vê além dos defeitos, perdoa além das iniquidades, no fundo denunciam a própria cegueira. Pois todo cego acha que aquele que vê enxerga menos do que ele.