O Amor e o Ódio: Reflexões Filosóficas para um Domingo à Noite

O amor, em sua profundidade, é uma força que universaliza, conecta e dá sentido à pluralidade da existência. Já o ódio, com seu foco limitado e parcial, reduz a complexidade do ser humano, deixando-o refém da cegueira de suas próprias distorções. Ao refletirmos sobre esses dois sentimentos, podemos perceber que o que muitas vezes é considerado amor, na verdade, é uma forma de controle e posse.

“Amo:volo ut sis” – “Amo, quero que sejas”, dizia Agostinho, o filósofo. Em suas palavras, o amor não é apenas um desejo egoísta, mas uma busca pela plenitude do outro, pela aceitação de sua essência e singularidade. Quando amamos verdadeiramente, queremos que o outro seja quem ele é, sem a imposição de expectativas que o aprisionem. O amor vê a totalidade, vê o outro como um ser completo, com defeitos e virtudes, e é nesse movimento de aceitação que reside sua força.

O amor, longe de ser cego, é capaz de enxergar além das falhas, transcendendo o superficial. Ele observa o todo, com suas partes em harmonia, reconhecendo nas diferenças a riqueza da existência. O amor universaliza, abraça a diversidade e nos faz perceber a beleza nas particularidades de cada ser. Ele é a verdadeira forma de ver o outro, sem o desejo de transformá-lo em algo que não é. No amor, a diferença não é ameaça, mas complemento.

Já o ódio, este sim, é cego. Ele reduz o todo à parte, foca em uma singularidade e extrapola essa visão para generalizar, destruir e distorcer. O ódio fixa-se em um ponto e o observa apenas sob essa perspectiva limitada, sem espaço para a harmonia ou para a aceitação. Ele se manifesta como uma fenda que separa e destrói, mirando em alvos e convertendo-os em inimigos, tornando-os indiferenciados, sem perceber sua humanidade. O ódio é uma prisão de pontos de vista rígidos e insustentáveis.

O que muitas vezes é chamado de amor, mas que se apresenta como possessivo, ciumento e controlador, na verdade, é uma manifestação do ódio disfarçado. A paixão exacerbada, que aprisiona, corrói e suprime, não é amor, mas uma tentativa de domesticar o outro, de aniquilar sua liberdade em nome de um suposto afeto. O amor verdadeiro nunca busca a destruição do outro, mas sua liberdade e crescimento.

E, paradoxalmente, aqueles que chamam de “cego” o amor que aceita, perdoa e vê além das imperfeições, revelam sua própria cegueira. A verdadeira cegueira não está em ver com clareza a realidade do outro, mas em se fixar em um ponto de vista limitado e distorcido. Todo cego acredita que o que não pode ver é menos do que aquilo que ele enxerga, mas a verdadeira visão é aquela que é capaz de ampliar os horizontes e olhar para o outro com empatia, sem reduzi-lo a estereótipos ou limitações.

Neste domingo à noite, que possamos refletir sobre as formas de amor que escolhemos cultivar e os ódios que, muitas vezes, confundimos com paixões. Que possamos aprender a enxergar o outro com os olhos da aceitação e do respeito, e nunca com os da cegueira que nos aprisiona em uma visão reducionista e destrutiva.

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