Reparação histórica, mais do que uma recompensa pelo passado, é um movimento para corrigir desigualdades presentes e criar um campo mais justo para todos.

Quando falamos de cotas e políticas afirmativas como “reparação histórica”, é fundamental entender que o conceito não se refere a uma “compensação” pelos horrores do passado, como a escravidão, nem implica que os negros de hoje sejam os mesmos que sofreram os abusos daquela época. A reparação histórica não é uma recompensa por um sofrimento passado, mas sim uma tentativa de corrigir as desigualdades que, apesar de estarem enraizadas em séculos de opressão, continuam a afetar as pessoas negras na sociedade atual.
Esse conceito trata da desigualdade racial que persiste até hoje, fruto de ações históricas que prejudicaram uma parte da população e a marginalizaram, não por escolhas pessoais, mas por um sistema opressor que se perpetuou por mais de 130 anos após a abolição da escravatura. Em outras palavras, as cotas e políticas afirmativas não são sobre punição, mas sobre a criação de uma oportunidade igualitária para que todos possam competir de forma justa nas esferas acadêmicas e profissionais.
A reparação histórica se baseia no princípio meritocrático: a crença de que as pessoas devem ser avaliadas por seu valor e suas habilidades, sem carregar o peso de uma desigualdade que não foi criada por elas mesmas. Assim, as políticas afirmativas não se tratam de uma “facilidade” ou “vantagem”, mas de uma necessidade para garantir que a competição seja, de fato, justa. Sem essas ações, as desigualdades estruturais impedem que o mérito real de uma pessoa seja reconhecido, pois a “disputa” já é desleal.
Entender esse conceito é desafiador, especialmente para aqueles que não compartilham a vivência das desigualdades raciais. A dificuldade maior surge quando se reconhece que o Brasil possui um passado de escravidão, que a população negra libertada foi marginalizada ao invés de ser reparada e que isso resultou em uma perpetuação da desigualdade que continua a afetar as gerações atuais. O verdadeiro conceito de meritocracia só pode ser alcançado quando as condições para todos são realmente iguais, e, por isso, a reparação histórica se torna essencial.
Admitir essa responsabilidade, especialmente para os brancos, não é fácil. Assumir que as ações do passado, praticadas por pessoas de sua própria raça, contribuíram para a perpetuação das desigualdades, exige coragem e um compromisso com a justiça. Porém, é o que se espera de uma sociedade que deseja corrigir erros históricos e promover um futuro mais justo. Para aqueles que acreditam na meritocracia de fato, é imperativo que se reconheça que as conquistas em um campo desigual não representam o verdadeiro valor de um indivíduo. Reconhecer isso e trabalhar para corrigir essas disparidades é um ato de dignidade pessoal e de justiça social.
Somente aqueles que têm confiança em seu próprio potencial estarão dispostos a encarar essa responsabilidade sem medo ou resistência, entendendo que, ao promover a igualdade, todos saem ganhando em uma sociedade mais justa e equilibrada.