A distopia da inversão moral e política no Brasil

Reflexões sobre a recente vitória de Arthur Lira e o fortalecimento de figuras polêmicas no Congresso.

Estamos vivendo em um cenário que mais parece uma distopia à la George Orwell, onde a linguagem e as práticas políticas são distorcidas e subvertidas de forma tão absurda que parece ser um plano deliberado. A recente vitória do bolsonarista Arthur Lira para a presidência da Câmara dos Deputados, com a interferência direta do governo federal, é mais um capítulo desta virada política insustentável.

Após essa eleição, um conjunto de figuras controversas e de conduta questionável passou a ocupar postos de grande relevância no cenário político. Um exemplo é a deputada Bia Kicis, conhecida por seu envolvimento com a propagação de fake news e seu negacionismo em relação à pandemia. Kicis, investigada pelo STF por suas ações, assume agora a presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a comissão mais poderosa da Câmara. Em suas mãos, todos os projetos de lei terão que passar, o que levanta sérias preocupações sobre o futuro legislativo do país.

E a situação fica ainda mais grotesca quando observamos a ascensão de Flor de Lis, a deputada envolvida no assassinato de seu próprio marido, que agora assume a Secretaria da Mulher. Este é um nome que remete a uma tragédia pessoal e familiar, mas também à hipocrisia moral que permeia as escolhas políticas do Brasil atual. Como podemos considerar esse movimento como algo condizente com os valores de uma “família tradicional cristã”, quando a figura que ocupa um cargo tão simbólico foi responsável por crimes tão horrendos?

O que está em jogo não é apenas a escolha dessas pessoas para cargos de poder, mas o próprio conceito de moralidade e ética pública. As distorções da linguagem e da prática política nos fazem questionar: até que ponto a política está sendo moldada por interesses pessoais, por grupos que priorizam o poder e a influência, independentemente das suas ações passadas? A nomeação de figuras com histórico de envolvimento com práticas ilícitas e imorais é, de fato, um reflexo de uma distopia política onde a verdade é manipulada e a justiça parece ser um conceito cada vez mais distante.

Essa realidade parece desmoronar sobre os pilares de um Estado democrático de direito, onde o governo e as instituições devem zelar pela moralidade pública, mas o que vemos é uma inversão desses princípios. O discurso de “família tradicional cristã” se torna um escudo para legitimar a ascensão de figuras que representam exatamente o oposto do que pregam. Esse é o Brasil em sua atual distopia: um país onde a ética e a moralidade são constantemente reconfiguradas para garantir a manutenção do poder de uma elite política.

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