Em um cenário político marcado pela corrupção e pela manipulação, a urgência da participação popular nas decisões do país se torna mais evidente.
A reflexão sobre o estado atual da política brasileira evoca uma sensação de impotência e fragilidade, que se intensifica à medida que o destino do país é decidido por instituições como a polícia e o judiciário. Embora a necessidade de delações e provas contundentes que revelem a corrupção dos grandes políticos seja indiscutível, a violação da democracia fica evidente quando esses órgãos passam a ser os responsáveis pela condução dos rumos do governo, enquanto o cidadão comum se vê alijado das decisões que impactam seu futuro.
A urgência de recuperar o poder de escolha por meio do voto é crucial, não por uma fé cega nos candidatos, mas pela necessidade fundamental de que o povo tenha o controle do seu próprio destino. A democracia, em sua essência, se sustenta na possibilidade de participação ativa do cidadão, algo que atualmente está sendo negado ao povo brasileiro. O cenário é de alienação, onde a mídia, com seus escândalos diários e manipulações, desvia o foco das questões realmente relevantes, tornando o cidadão meramente espectador da política.
Esse fenômeno de alienação política não é novo na história do Brasil. Ao longo de nossa trajetória, desde a independência até a proclamação da república, a participação popular sempre foi marginalizada. Nem mesmo o movimento de independência ou a transição republicana envolveram a participação do povo. O Brasil, em sua história recente, tem poucos momentos em que a democracia foi verdadeiramente exercida. Após o período da ditadura, a chamada “redemocratização” não trouxe, de fato, uma democracia plena, pois saímos da ditadura sem eleições diretas, um anseio popular que se expressou nas “diretas já” de 1984, mas que foi silenciado.
A eleição de Collor, em 1989, simbolizou esse distanciamento do povo das decisões políticas, pois seu mandato foi interrompido por denúncias de corrupção. Desde então, a classe política brasileira tem se mantido no poder de forma inerte, sendo apenas deslocada de um cargo para outro, sem nenhuma renovação substancial, mantendo-se corporativa e pouco transparente. Esse ciclo de corrupção e manipulação de eleições afastou ainda mais o povo da política.
Agora, mais do que nunca, é fundamental que a população se aproprie da sua história e do seu direito de decidir o futuro do país. Em meio à maior crise democrática da nossa história recente, a participação popular precisa ser restaurada. Que o movimento das “diretas já”, que não se concretizou plenamente em 1984, ecoe novamente em 2022, 38 anos depois, como um símbolo da luta pela democracia e pela reparação dos erros históricos que ainda nos afligem.